22/08/2023

Meu herói morreu de overdose!

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Por intuição no final da tarde de ontem, quinta feira (05), enquanto nuvens negras pairavam sobre a cidade e os pingos da chuva batiam forte contra a janela no alto do  14º andar do Edifício Araucária, comecei a refletir sobre os ídolos que tive, os que ainda estão na minha seleta lista de admiráveis.  Lembrei que tinha dito que gostaria mesmo é de morar  na mais primitiva tribo que há no ventre da África Mãe e meu pensamento me levou a lembrar de Nelson Mandela, a quem prefiro chamar de Mandiba. Tive vontade de escrever sobre ele, sobre a sua luta contra o apartheid, sobre a sua saga na prisão e a volta por cima que deu ao eleger-se presidente da África do Sul.

Porém, fui interrompida por um telefonema do jornalista Márcio Fernandes e a linha do meu raciocínio se foi. Desisti de escrever e ao chegar em casa recebi a notícia de que o prazo de validade de Mandiba neste plano tinha vencido.

Em silêncio, perdi um dos meus heróis enquanto o mundo perde um herói de verdade. Um homem que foi grande, íntegro, lutador, cidadão, suficiente para mudar o seu próprio destino, o destino do seu país. Um homem, negro, que colocando o preto no branco, mostrou na prática que é possível  ter esperança quando se acredita na luta e se é capaz de sacrificar a própria vida em prol dos seus.

Mandiba se foi para um plano mais elevado, mas a sua energia permanecerá na mente de cada sul africano, na memória  do mundo, a partir dos seus exemplos de perseverança, dignidade, resignação, força, fé e tolerância.

Posso dizer com convicção que Mandiba  é sim o grande vencedor do bom combate, uma gloria para poucos. Afinal, os 27 anos de prisão nunca enfraqueceram a sua força, nunca o afastaram da sua convicção política, do seu ideal de igualdade. O seu grito ganhou eco, o grito do seu povo ignorou fronteiras. Mandiba deixou o cárcere, percorreu a África, o mundo, é prêmio Nobel da Paz,  e elegeu-se presidente dando o maior exemplo de bondade, de tolerância, de liderança. Ao contrário da maioria que tem sede egoísta de poder, ensinou que a humildade e nobreza de caráter podem ser transformadoras. O seu governo foi paz, como se quisesse apagar o mar de sangue que cobriu o seu chão pelas atrocidades do apartheid.

Mandiba se foi  e percebi que meus heróis morrem de overdose. Por porções exageradas de amor, humildade, tolerância, desprendimento, altruísmo, ânsia de liberdade e de igualdade. Pra mim fica o legado de um herói de verdade!

Cristina Esteche

Jornalista

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