Em 1997 a região Oeste do Paraná vivia um momento histórico: o derrocamento das 7 Quedas e o fim de um dos maiores potenciais turísticos do Paraná, no município de Guaíra.
Com a formação do Lago Internacional de Itaipu, em 1982, os saltos mais visitados e conhecidos do Brasil acabaram submersos pela água. E com os 7 saltos, também foi soterrada a “mina de ouro” de Guaíra.
As quedas permaneceram submersas até 1997, quando os técnicos definiram pelo derrocamento (explosão das rochas que formavam o antigo canal do Rio Paraná e as 7 Quedas) para melhorar a navegação no local, uma vez que o trecho é utilizado por embarcações e transporte entre os estados de São Paulo e Paraná.
Dessa vez não fui escalado pela redação do jornal para cobrir o derrocamento, eu me ofereci.
Nesta época, meu fiel escudeiro era Luis Diesel, que estava iniciando na atividade jornalística.
Chegamos cedo à área demarcada pela Marinha para ser ocupada pela imprensa. O derrocamento estava marcado para as 08h00. Chegamos por voltas das 06h30, e mesmo assim disputamos a cotoveladas um pequeno ponto para instalar nossas máquinas fotográficas. Devido à importância do fato, no local havia representantes da imprensa do País inteiro.
Às 08h00 o navio da Marinha passou e avisou que o derrocamento iria atrasar. Foi remarcado para às 10h00. Depois para às 12h00. Depois para às 14h00. Depois para às 16h00.
Bom, da pra imaginar o estresse que isso estava gerando. No sol, e olha que o sol de Guaíra queima até cinzas. Enfim, cerca de 50 jornalistas torrados, com fome e num local que não poderia sair sequer para ir ao banheiro, pois perderia o ângulo da imagem, não é prenuncio de boa coisa.
Do nada, o representante da Folha de São Paulo soltou uma piada. Aí emendou a Veja, o Globo, e virou uma grande confraternização.
Nesse tom de amizade e troca de telefones (na época celular era só o tijolo e coisa de milionário e e-mail era a metade de alguma coisa, pois a internet ainda gatinhava), eis que às 15h38 houve-se o trovão do derrocamento.
Fomos todos traídos pela conquista de amizades. Todos fomos testemunhas oculares do derrocamento, mas apenas um dos 50 presentes fez a tão esperada foto. Um japonês que transpirava amargura e não saiu do seu ponto para conversar com os demais jornalistas. O único sorriso que vimos dele foi após as águas caírem e ele parar de disparar alucinadamente sua máquina fotográfica. Ele olhou para todos e disse: FOI LINDO. Todos olharam para ele e lembraram de Hiroshima e Nagazaki.
Acho que o japa não precisou trabalhar mais aquele ano, pois vendeu muito as únicas fotos do derrocamento das 7 Quedas.
A nós restou o bronze de pedreiro e a visão que nunca mais esqueceremos. Não, não foi o derrocamento, foi o sorriso do japonês.