22/08/2023

Qual é o livro da sua vida?

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A foto é do Real Gabinete de Leitura, no Rio de Janeiro. Quase chorei quando entrei aí!

O MIPA [Meu Instituto de Pesquisas Aleatórias] precisa lhe fazer uma pergunta:

– Qual é o livro da sua vida?

Aquele especial, que você leu com pressa – quase com gula, e quando viu faltarem apenas algumas páginas para acabar, começou a adiar o final porque há uma espécie de vazio que só livros muito bons são capazes de deixar, um pesar por se separar da história. Tenho alguns livros queridos, que de tempos em tempos releio em busca de paisagens e diálogos ou só para passear pelos trechos sublinhados e anotações das margens. Hoje quero falar sobre dois deles.

Uma obra prima é facilmente reconhecível: ativa nossa capacidade de nos maravilhar e Cem Anos de Solidão é maravilhamento puro desde as primeiras frases:

Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.

O livro narra a história da família Buendía através de diversas gerações de Josés Arcádios, Aurelianos, Úrsulas e Amarantas [recomenda-se ler com caderno de anotações à mão, pois consultar a árvore genealógica dos Buendía é imprescindível durante a leitura] e ao descortinar as tramas da família tendo como pano de fundo Macondo, cidade-ideia situada em algum ponto do Caribe, Gabriel García Marquez – Prêmio Nobel de Literatura em 1982, nos presenteia com uma história fluida e cheia de personagens memoráveis, onde o realismo fantástico aparece como toques de aquarela num quadro de tintas bem vivas, como só os mestres das palavras são capazes.

O outro livro, Um Certo Capitão Rodrigo, é o resultado da junção da escrita madura de um gaúcho de personalidade discreta e prosa clara chamado Érico Veríssimo e de um protagonista tão interessante quanto emblemático, transbordando carisma e contradições.

O livro faz parte da série ‘O Tempo e o Vento’ [7 livros no total] narrativa de usos e costumes que ajudam a recontar a história do Rio Grande do Sul – e consequentemente dos rumos da política nacional, de meados do século XIX até os anos 50 e o governo Getúlio Vargas.

O Capitão Rodrigo surge em 1828, vagueando pelo mundo depois de alguma guerra e sua presença magnética causa um turbilhão na cidade, principalmente na mocinha Bibiana Terra que, apaixononada & enlouquecida [quem nunca?], se casa com o forasteiro irresistível ao invés do herdeiro local, dando início ao clã dos ‘Terra Cambará’ e expandindo o legado de sua avó Ana Terra. 

Este mesmo Rodrigo Cambará, as primeiras linhas do livro nos contam que chegou com um violão a tiracolo, vestindo um dólmã militar azul e um lenço encarnado no pescoço, entrou na venda do Nicolau e disse:

– Buenas e me espalho! Nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho!

Santa Fé e a literatura brasileira nunca mais foram as mesmas.

besos   kiss   

PS1: percebi enquanto escrevia o post algumas semelhanças entre meus dois livros favoritos: são sagas, se desenrolam num longo espaço de tempo e ambos têm os primeiros parágrafos incríveis. É como se os livros começassem com o pé direito!

Ps2: eu tenho mania de post scriptum, sorry.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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