Estava lá o corpo caído chão. A frase até pode ser uma intertextualidade com a música cantada pelo “indescritível” [pra mim] João Bosco, mas o fato ocorrido na tarde desta quarta em Guarapuava passou dos limites de tudo o que vi e noticiei até agora. Um homem pega uma carona, passa mal e é descartado como uma mercadoria inútil à beira de uma avenida. Morre ali mesmo. Se é que existe algo pior do que perder a vida, o deprimente vem em seguida. O corpo permaneceu no local por mais de quatro horas, exposto ao sol ardente o que apressou a decomposição. Enquanto isso a burocracia arcaica se sobrepôs a qualquer gesto de humanidade, de solidariedade, de respeito a um cidadão. Ficou lá até que um familiar aparecesse como num passe de mágica para a identificação, entrega de documentos aqui e acolá, para que, enfim, lá na ponta final, a funerária de plantão pudesse recolher o corpo para então um funeral digno.
Somos porta-vozes diariamente de notícias que nos mostram a banalização da morte, ou seria da vida? O fato é que tudo me leva a crer que estamos sendo constantemente testados. A inversão de valores está presente no dia a dia, os princípios, principalmente, éticos estão fragilizados por interesses individualistas, fechados em clãs. O poder efêmero que alimenta o ego dos fracos faz mudar atitudes de pessoas….pobres coitadas….. daquelas que precisam se agarrar a uma falsa ascensão para estufar o peito, olhar por cima, exigir, manipular, decidir a vida de pessoas. Mal sabem elas que algum dia podem ser mais um corpo sem vida sobre uma calçada qualquer.