As luzes vermelhas ou azuis deixam o lugar na penumbra, mas o som alto, predominando músicas sertanejas que falam de amor, se mistura com risadas. São bares que se espalham, principalmente, pela periferia de Guarapuava, onde mulheres estão à disposição para uma conversa, compartilhar a cerveja, dançar e acabar a noite em qualquer motel da cidade.
Foi nesses locais que as jornalistas Cristina Esteche e Lizi Dalenogari encontraram vários personagens que compõem a noite guarapuavana. As duas acompanharam uma equipe do SAE (Serviço de Atendimento Especializado) na noite desse sábado (01). A equipe coordenada por Clarice Kunkel, desde o dia 24 de fevereiro, distribui preservativos, leques, gel e orienta sobre o trabalho do SAE, prevenindo contra a Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis.
“Entramos nos mais diversos lugares, enfrentamos as mais diferentes pessoas para fazer o nosso trabalho, na cidade e no interior”, diz Clarice. Do dia 24 até ontem cerca de 40 mil “camisinhas” haviam sido entregues em lanchonetes, danceterias, bares, boates. Elas entram, deixam tudo arrumado e disponível em banheiros, balcões, mesas, num “tour” que entra na madrugada a dentro até a terça feira de Carnaval. A previsão é de que 70 mil preservativos sejam distribuídos. Porém, nada é feito sem o aval dos donos ou gerentes. Ao chegar num bar, por exemplo, uma pessoa da equipe se dirige à dona e pede permissão para fazer o trabalho. Então é que a equipe entra, conversa com as pessoas, deixa o material. “Somos bem recebidas porque o mais difícil, que é a abordagem inicial, já passou. Depois ganhamos a confiança e todos se tornam nossos pacientes para a realização de exames frequentes e de consultas”, diz a enfermeira Angela Maria de Camargo, do SAE.
“Sem camisinha não pode”, diz um freguês do Bar da Lourdes, recém aberto na Vila Bela. “A gente tem que usar. Me dê umas aí”, intervém outro freguês. Com duas mulheres trabalhando no bar, Lourdes recebeu o material entregue e se interessou pelo serviço ofertado pelo SAE. “Vou levar as meninas para fazer todos os exames”, disse Lourdes da Silva.
No Bar da Lu, perto do Zagonel, a ex dona da Boate Fugitivos no Morro Alto, homens e mulheres bebem animadamente. No ambiente animado o cheiro de carne assada tomar conta e desperta o apetite. “Aqui é um ponto de encontro. Os homens brigam em casa, se estressam e vem para cá para extravasar. Aqui riem, conversam, dançam, bebem e se quiserem continuar o programa tem que ser fora daqui”, diz a Tia Lu, viúva, mãe de dois filhos e avó de dois netos a quem dedica os finais de semana. O número de mulheres nesse bar oscila entre 05 e 15 meninas que recebem os cuidados necessários. “O pessoal do SAE me conhece e sabe que mantenho os exames das meninas em dia”, diz.
Já mais perto do Núcleo Tancredo Neves, um novo bar foi aberto. É o Bar da Edy, mas é nome provisório, faz questão de informar a moça loira que está atrás do balcão. Moças já embriagadas e três homens se encontram no local. Os homens são tratadas por elas como “corpo”. Elas preferem não conversar. “Este bar é novo e ninguém ainda nos conhece. Então é normal ficarem arredios, mas depois a gente ganha a confiança e podemos fazer o nosso trabalho”, observa Clarice Kunkel.
Perto da Rua XV de Novembro indo para a Polícia Militar, numa rua à esquerda, está localizada o Vitórias’Bar. Lucilene da Silva, a proprietária faz questão de receber a equipe. Logo na entrada, no pátio, há mesas espalhadas e casais conversam animadamente. Dentro, luzes coloridas deixam o local na penumbra. Sofás espalhados pela pista de dança compõem o cenário embalado por música animada. “Aqui é um lugar onde as pessoas se encontram. Eu tenho três meninas fixas e quem desejar encontrar um par vem aqui. Tem noites em que há meninas”, diz Lucilene.
Trabalhando há seis anos nesse tipo de comércio, ela diz que a vida não é fácil e assim como as outras proprietárias afirmam, a atividade deixou de ser rentável. “Há meses que ponho dinheiro do bolso para manter a casa. Mas além disso, enfrento desde o mais alto empresário, o doutor até drogados, mas todos me respeitam”, assegura. “Vivemos em altos e baixos”.
Remanescente da ZBM (Zona do Baixo Meretrício) a Casa de Pedra, nome de uma mais antigas e famosas casas de prostituição da história de Guarapuava, a boate no alto da Vila Santana mantém três garotas que moram na casa. Vindas de Santa Catarina, elas recebem casa e comida. “A dona, que é a Dalva, ganha em cima do aluguel dos quartas (R$ 30 por meia hora) e das bebidas”, diz Rosângela, a Rô, uma morena que vive no lugar há seis anos e que agora gerencia a casa.
Cada programa de 30 minutos custa R$ 70. “Mas se o cliente tiver só cinquentinha, antes na minha mão do que no bolso dele”, comenta Joice em risos. Elas dizem que chegam a fazer até cinco programas por noite quando há clientes.
“Agora no Carnaval nossos clientes viajam com a família e o nosso movimento é baixo”, diz Rosângela. Aliás, todas em todos os bares e boates visitados a reclamação foi a mesma: não há clientes no Carnaval. “Tivemos que ligar para uns amigos para que viessem nos ver”, diz Lucilene do Vitória’s Bar.
A equipe da Rede Sul de Notícias parou por aqui, mas a equipe do SAE continuou a jornada que segue até a terça feira de Carnaval.