22/08/2023
Cotidiano

Pedidos de justiça contra mulheres assassinadas marcam vigília em Guarapuava

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Ainda estava escuro quando um grupo de mulheres se reuniram na Praça 9 de Dezembro neste sábado, 8 de Março, Dia Internacional da Mulher. Elas foram chegando aos poucos, antes das 5 horas da manhã, levado balões brancos, cartazes, velas, flores. Eram ativistas e familiares de  mulheres que foram assassinadas, cujos nomes foram lembrados durante a vigília que começou com a batida do sino na Catedral Nossa Senhora de Belém, anunciando um novo dia.

No silêncio da cidade que dormia, o grupo relembrou as sete mulheres mortas por ex- companheiros em 2013 e outra vítima de homicídio em 2014.

“Achei o corpo da minha irmã após três dias do seu assassinato e enquanto eu tiver forças vou lutar para que o assassino seja preso. Ele se apresentou à polícia quatro meses depois do crime e está em liberdade”, disse, aos prantos, Roseli Obal Ferreira, irmã de Soeli, assassinada por Donevir Chagas, há seis meses.

Em cada cartaz depositado no chão da praça havia palavras que expressavam a dor pela perda provocada pela violência. “Que a justiça seja feita. Queremos esse assassino na cadeia”, dizia um dos cartazes expostos. O pedido por justiça foi o denominador comum durante a vigília. Dos autores dos oito homicídios, apenas dois estão presos e outro com mandado de prisão expedido. “O assassino da minha irmã está tão perto e já tem outra mulher que pode ser a terceira vítima e a polícia não faz nada”, disse Matilde Obal, lembrando que o autor do crime contra sua irmã já tinha tentado matar a primeira mulher.

De acordo com a secretária municipal de Políticas Públicas Para Mulheres, Eva Schran, que também é vice prefeita de Guarapuava,  o índice de violência contra a mulher em Guarapuava é absurdo. “Atendemos em média cinco vítimas de violência extrema por semana, fora os registros mais corriqueiros”, informou. “Não dá tempo de nos recompormos de um e já nos deparamos com outro”, lamenta.

A secretária lembrou também que a violência está nos mais diversos setores da sociedade. “Estamos convivendo com um caso de violência institucional contra a diretora do IML (Instituto Médico Legal), Fortunata Camilo. que saiu da cidade por estar sendo ameaçada de morte. Temos a violência doméstica, a violência familiar. O nosso coração sangra com tantas vítimas”.

Para a advogada Edni Arruda, que há anos milita no movimento feminista, a reversão desse quadro, mesmo que seja a longo prazo, está nas próprias mulheres a quem cabe a maior parte da responsabilidade na educação dos filhos. “Só as mulheres estão mais perto do coração da vida e cabe a elas uma nova cultura na forma de educar os filhos”, afirmou referindo-se a uma política educacional de igualdade entre os gêneros.

Único homem a participar da vigília, José Carlos Pacheco Barbosa, defendeu uma maior mobilização da sociedade. “Sou totalmente contra a violência, por isso, acho que a sociedade guarapuavana deve se mobilizar para mudar uma cultura que é patriarcal, machista. Que direito o home tem de chegar em casa ameaçar, bater e até matar”? É preciso dar um basta”, afirmou. Ele critica a falta de homens no movimento. “Mais homens deveriam estar aqui lutando ao lado das mulheres”, defendeu.

A fotojornalista Lizi Dalenogari, da Rede Sul de Notícias, chamou a atenção para a omissão da sociedade. “Se a minha vizinha apanha todo dia o problema é dela. Esse é um pensamento equivocada porque a próxima vítima pode ser eu ou alguém da minha família. É preciso denunciar. Chega de omissão”, observou.

Leituras de trechos bíblicos, poemas e músicas também marcaram a vigília que iniciou a programação alusiva ao Dia Internacional da Mulher em Guarapuava. Balões brancos foram soltos com o endereço e telefone da Secretaria da Mulher.

 

Cristina Esteche

Jornalista

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