Uma investigação do Ministério Público Federal (MPF) afirma que, desde 1998, atos secretos têm alterado os contratos de pedágio nas estradas federais do Paraná. As mudanças, segundo o relatório, adiaram ou cancelaram obras importantes nas estradas que formam o Anel de Integração – e atingiram as seis concessionárias de estradas federais. Para o MPF, as mudanças encareceram o pedágio e prejudicaram a qualidade das rodovias.
O relatório do MPF relaciona as concessionárias Viapar, Rodonorte, Econorte, EcoCataratas, Caminhos do Paraná e Ecovia – que juntas administram 2,5 mil quilômetros de estradas federais no Paraná. Para o MPF, as empresas investiram menos e faturaram mais do que o previsto nos contratos originais – que sofreram pelo menos 13 alterações a partir do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), mas sem autorização do Ministério dos Transportes.
“A ilegalidade desse acordo é clara. Toda modificação no cronograma de obras deveria ter sido submetida ao crivo da União. Nenhuma dessas alterações informais foi submetida”, afirma o promotor da República Diogo Castor de Mattos. Ainda segundo o MPF, nenhum estudo técnico amparou as mudanças, que foram realizadas a partir de acordos.
Uma das mudanças envolve a duplicação da PR-407, entre Paranaguá e Praia de Leste, que pelo contrato original estava prevista para ser concluída em 2011. A obra ainda não começou, porque um acordo prorrogou o prazo para entre os anos de 2015 e 2021. Já um acordo com a EcoCataratas, a duplicação do trecho de 14 quilômetros entre Matelândia e Medianeira havia sido retirada do contrato, em troca de redução de 30% na tarifa do pedágio. Porém, após um acidente que deixou cinco mortos, a obra foi retomada. A manobra deixou o pedágio 8% mais caro, o que levou a concessionária a ganhar R$ 131 milhões, sendo que a obra custou R$ 65 milhões, segundo o MPF.
Nenhum representante das concessionárias quis se pronunciar sobre o assunto. A Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR) informou, em nota, que não há atos secretos, e que as alterações no cronograma das obras seguiram rigorosamente os requisitos legais e contratuais. Também em bota, o DER afirmou desconhecer atos secretos, e reforçou que todas as mudanças foram feitas com conhecimento do Ministério dos Transportes e do Tribunal de Contas da União, que recebe relatórios trimestrais dos contratos.
Doações para políticos
O relatório ainda cita que diversos políticos do estado receberam doações de empresas ou pessoas ligadas às concessionárias de pedágio, para campanhas eleitorais. O governador Beto Richa (PSDB), por exemplo, R$ 3 milhões entre as campanhas de 2008 – para a Prefeitura de Curitiba – e 2010. O governador afirmou que todas as doações foram aprovadas pela Justiça Eleitoral.
O senadores Roberto Requião (PMDB) e Gleisi Hoffmann (PT) receberam R$ 15 mil e R$ 1,3 milhão, respectivamente, na campanha de 2010, segundo o MPF. Requião diz qu não recebeu dinheiro, mas o empréstimo de uma casa para o comitê de campanha, enquanto Gleisi nega ter recebido doações de concessionárias.
O prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT), recebeu R$ 140 mil, segundo o MPF. Ele afirmou que todas as doações de campanha foram aprovadas pela Justiça Eleitoral.
Já na Assembleia Legislativa, o MPF revelou que todos os deputados estaduais que não assinaram o documento para abertura da CPI que investiga os pedágios receberam doações de empresas ligadas aos concessionários. Entre eles, está o presidente do Legislativo, Valdir Rossoni (PSDB), que recebeu R$ 50 mil. A assessoria do deputado informou que ele está em viagem, e não foi localizado para comentar o assunto.
Fonte: G1