22/08/2023

Meio século de uma história de terror

O pesadelo ainda provoca calafrios  numa demonstração viva de que o período da ditadura militar no País, embora se passem 50 anos, ainda continua a torturar a população brasileira.

Foi em 31 de março de 1964 que o pesadelo se personifica e em 1º de abril que começa a assombrar o país pelas mãos da farda que assumiu o poder, inclusive sobre os direitos humanos, na maior ruptura institucional já vivenciada na história nacional. Era o início de torturas, mortes, exílios, cantados por Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Gal Costa, Bethânia, e tanto outros músicos da Tropicália, movimento que se opôs à “brasilidade” do Brasil eu te amo, patrocinada pela Jovem Guarda.  O povo estava  atado, a sua liberdade amordaçada.

Durante 21 anos torturadores, militares que surgiram com a renúncia do então acuado  presidente Jânio Quadros, iniciaram um movimento maquineísta. O então vice  João Goulart estava em viagem oficial à China quando Jânio Quadros renunciou em 1961. O vice só retornou ao Brasil depois de aceitar governar em regime parlamentarista. Uma vez no poder, adotou discurso considerado de esquerda e implementou políticas trabalhistas.

De acordo com a história, o  estopim necessário para explodir um golpe militar se deu quando Leonel Brizola e João Goulart fizeram um discurso na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, no dia 13 de março, declarando as reformas de base, lideradas pela reforma agrária. Nos dias seguintes os oposicionistas se organizaram e promoveram seis dias depois a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, o movimento de base religiosa tinha como objetivo envolver o povo no combate ao maléfico comunismo. Assim, a religião, o povo e o interesse norte-americano formavam a sustentação que permitiria o golpe militar.

João Goular foi deposto e os militares  prometerem eleições presidenciais para 1965, o que não aconteceu. Os militares passaram a eleger os presidentes indiretamente durante a ditadura que se tornaria mais severa a cada ano.  A censura fez com que o povo se calasse. Os Atos Institucionais e o regime que tomara o poder através de um golpe se estabeleceria sobre bases legais, porém autoritárias.

Militares transvestidos de poder banharam as mãos em sangue, expulsaram brasileiros para outros países, decretaram a pena de morte, sem o mínimo remorso, sem a menor piedade e se deliciavam em laudos banquetes para comemorar as mortes.  Revoltas estudantis, grupos de luta armada foram surgindo espezinhados pelos coturnos de homens de espírito duro que, com mãos e “coração” de ferro puniam  os contrários.

O general Arthur da Costa e Silva assinou em 13 de dezembro de 1968 o Ato Institucional nº5, o mais cruel dispositivo utilizado pela ditadura. O ato suprimiu os direitos políticos dos cidadãos por dez anos em caso de manifestação contra o regime e determinou que prisões poderiam ser feitas sem o respeito aos direitos legais. O Congresso permaneceu fechado por um ano.

Intelectuais de peso foram obrigados a fugir e viver no exterior e quem ficou, sucumbiu sob relações promíscuas entre o poder, empresários e imprensa governistas.

São 50 anos dessa história que não pode ser esquecida pelos crimes que foram praticados, pela impunidade que ainda impera, pelos mortos que ainda não tiveram um sepultamento digno, pelas famílias que ainda clamam por justiça. 

Cristina Esteche

Jornalista

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