Por Cristina Esteche
Embora não exista uma estatística que revele o número de mulheres que sofrem de depressão pós parto, é grande o número de pacientes em Guarapuava. A constatação se dá por meio de informações de profissionais de saúde que trabalham em hospitais ou em clínicas de psicologia, de forma não oficial. De acordo com a literatura médica internacional, porém, entre 10% e 15% das mulheres que dão à luz sofrem dessa patologia.
Marta (nome fictício), 26 anos, é uma mulher que sempre desejou ter um filho e imaginava encontrar na maternidade a realização da sua vida. Porém, na medida em que a gravidez avançava surgia o temor cada vez maior da responsabilidade que teria ao colocar uma criança no mundo. “Foi me dando um desespero muito grande e o meu conflito aumentou quando pensava que meu filho poderia estar sentindo a minha rejeição. Ao mesmo tempo eu já o amava. Eu não tinha coragem de contar o que estava sofrendo, pois tinha receio de ser criticada”, desabafou.
Em outro caso, com grande repercussão estadual, uma jovem em Guarapuava fez o próprio parto, abandonou o bebê recém nascido no banheiro de casa e o deixou morrer. A repercussão se agravou porque a mãe é enfermeira. Em depoimento à polícia ela disse que rejeitou a gravidez porque já tem um filho, mora numa casa de três cômodos e ganha R$ 700 por mês.
De acordo com o psicólogo Eduardo Bernardes Nogueira, do curso de psicologia da Faculdade Guairacá, gestações não programadas e não desejadas, falta de estrutura doméstica, ausência do pai da criança, conceitos sociais e religiosos são algumas das causas do sofrimento durante a gravidez e podem desencadear a doença.
“Muitas mulheres se sentem profundamente insatisfeitas ou infelizes com o processo ou a gravidez não era algo desejado e por questões sociais ou religiosas a opção foi dar continuidade à gestação, gerando um sofrimento muito grande e em algum momento uma reação vai aparecer. Geralmente é após o parto”.
Na depressão pós-parto, as mães sentem raiva do bebê, o culpam por sua situação e, muitas vezes, acabam sendo negligentes em relação aos cuidados de que a criança necessita. Esse conjunto de sintomas pode aparecer nos primeiros dias após o parto e, se não for cuidado, persistir por até um ano. E não são só as mulheres que sofrem com essa situação. Uma série de pesquisas indica que essa falta de contato com a mãe nas primeiras semanas traz consequências para o desenvolvimento físico e neuromotor da criança.
Segundo o psicólogo, há uma pressão grande por parte da sociedade, principalmente, ao acreditar que a mãe é uma pessoa feliz, disposta a entregar a vida pelos filhos. “Essa pressão desencadeia uma carga de emoções, um sentimento contrário ao ter o filho, provocando ao mesmo tempo um sentimento de culpa. É da ordem de um conflito contrapor o que os outros pensam e aquilo que está se pensando”. Segundo Nogueira, um sofrimento dessa natureza não escolhe nível social. “Por isso, é preciso ter o cuidado de não julgar, de não avaliar determinado fato em que a mulher rejeita o filho. Assim como, quem não o deseja pode muito bem desenvolver o amor pelo bebê”.
O psicólogo defende que na atualidade se entenda a maternidade sob uma visão mais realista e menos romântica. “É preciso entender que os tempos mudaram, que as mulheres saíram do campo doméstico para conquistar espaço nos vários setores da sociedade. É preciso entender também que a mulher encontra realização em outras formas de viver a vida”.