22/08/2023

A mirabolante vida [e morte] de Evita Perón

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Movida por uma vontade inabalável, Eva Maria Duarte saiu dos confins da Argentina para ser atriz e acabou por se tornar a primeira dama de seu país. Mais que isso: se tornou um mito que já rendeu livros, musical de sucesso na Broadway, filme estrelado por Madonna e muitas histórias.

Quando morreu de câncer aos 33 anos, o regime populista comandado por seu marido, o general Juan Domingo Perón, ainda estava no auge. Como musa portenha & salvadora dos pobres, exibia um estilo marcante, mistura de extravagância e refinamento que garantiam um poderoso magnetismo pessoal. Comunicava-se perfeitamente com as massas, fundou diversas entidades de auxílio e lutou pelo voto feminino: era um inato furacão político, cujos discursos inflamados faziam a multidão vibrar diante de qualquer aparição sua nos balcões da Casa Rosada.   
Teve uma vida extraordinária, mas foi sua rocambolesca saga post mortem que rendeu os fatos mais insólitos, habilmente narrados no livro Santa Evita, de Tomás Eloy Martinez.

A coisa toda aconteceu assim: durante 3 anos, o povo fez romarias para ver o corpo embalsamado de Evita – que já tinha atingido status de santa e aparentava dormir placidamente, suspensa como se flutuasse dentro do caixão. Quando Perón foi deposto e exilado, o cadáver se tornou uma ameaça à segurança nacional, considerado pelos novos governantes um possível trunfo do general. Enquanto se decidia o que fazer, o corpo embalsamado da ex primeira-dama ficou escondido atrás da tela de um cinema decadente, onde serviu de boneca à filha do dono e houve até um suposto episódio de necrofilia enquanto esteve escondido no sótão de um militar – para citar apenas alguns dos assombros, porque a sucessão de acontecimentos é tão mirabolante que se não fossem comprovadamente reais, soariam como invencionice exagerada.

A escrita clara e irônica de Tomás Eloy Martinez dá voz aos personagens da trama, destaque para o surpreendente tenente-coronel Moori Koening, chefe do serviço de inteligência do exército e responsável pela guarda do cadáver, a quem a obsessão por Evita custou a carreira, reputação e sanidade mental.

O corpo só foi devolvido à família décadas depois, quando o trouxeram de Milão, onde estava enterrado num jardim sob nome falso. Hoje, repousa em uma tumba simples no cemitério da Recoleta, em Buenos Aires – a segurança é reforçada.

Ps1: O musical “Evita” foi encenado na Broadway pela primeira vez em 1978. A adaptação para o cinema, feita em 1996, com Madonna no papel de Evita, rendeu esta cena memorável: http://www.dailymotion.com/video/xzoi25_madonna-evita-don-t-cry-for-me-argentina-1996_shortfilms

Ps2: Vou dar um conselho descontextualizado, por atrevida que sou: escrevam seus pensamentos, no fluxo em que eles vêm. O simples ato de escrever ajuda a ver tudo com mais clareza- e reler os escritos depois é um passeio produtivo pela própria mente.

 

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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