22/08/2023
Cotidiano

Divididos, quilombolas perdem representação estadual

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Guarapuava – A comunidade Paiol de Telha perdeu uma das mais importantes representatividades políticas na luta fundiária durante o Seminário de Comunidades Quilombolas.
Realizado em Faxinal do Céu de 13 a 16 de julho, o evento reuniu representantes de 50 quilombos paranaenses.
A principal pauta do Seminário foi a aprovação do estatuto da Federação Estadual e a composição da comissão executiva da entidade. O prejuízo do Paiol de Telha está justamente aí.
Apesar de levar para o encontro seis representantes dos quatro núcleos que compõem a comunidade quilombolas urbanos (distribuídos em 14 bairros de Guarapuava), Assentamento na Colônia Socorro, Pinhão e Reserva do Iguaçu (barranco), o Paiol de Telha não conseguiu nenhum cargo na Comissão Executiva, ficando apenas com uma suplência. Ozir Gonçalves Guimarães, conhecido como Lunga, que veio de São Paulo há apenas quatro meses e ingressou na luta recentemente, foi o único indicado para concorrer a uma vaga na Executiva, mas não conseguiu ser eleito.
“Perdemos para comunidades com menos representatividade e isso é péssimo”, diz a líder quilombola Ana Maria Santos da Cruz (foto).
Segundo ela, a “briga interna pelo poder” envolvendo os núcleos acabou rachando o movimento e a consequência foi a perda da representatividade em nível estadual. “Conseguiram deixar a região centro de fora, perdendo para São Miguel do Iguaçu e Palmas, que tinham menos representatividade e com pessoas com menos expressão estadual, mas que foram para o encontro bem articulados e unidos”, diz.
A “queda de braço” entre os quilombolas do Paiol de Telha, segundo Ana Maria, é pela representação estadual, e é motivada pela divisão entre os quatro núcleos da região.
Do Paiol de Telha participaram do seminário, além de Ana Maria, Mariluz Hoffman (Rede Puxirão), Manoel Ferreira dos Santos, Paulinho do Patrocínio que, segundo Ana, não é quilombola; Divonzir Manoel dos Santos, João Carlos Oliveira, Ozir Gonçalves Guimarães, Anaxilê Isabela Camargo Soares da Cruz, Juvenília Alves da Cruz. Fizeram-se representar também as 12 comunidades quilombolas de Adrianópolis, Palmas, Guaraqueçaba, São Miguel do Iguaçu, Curiúva e Castro.
Em nível nacional a comunidade quilombola mantém a sua representação. Ana Maria, que mora na comunidade da Colônia Socorro, se mantém como representante do Paraná na Coordenação Nacional dos Quilombolas Rurais (CONAC). Foi com esse peso que Ana Maria participou das discussões para a elaboração do estatuto da Federação Estadual e da Comissão Provisória composta para essa finalidade em 2007. Ela vai atuar também junto à Comissão Executiva da Federação para as reivindicações do Paraná na esfera nacional e tem o apoio do Grupo Clóvis Moura, órgão do Governo do Estado que trata das questões quilombolas. “Esta é a primeira vez no Paraná que um governador dá abertura e a oportunidade para que os quilombolas se organizem. Não se pode jogar fora essa oportunidade por causa de divisão interna, pois quem sai perdendo é a comunidade Paiol de Telha”, observa Ana Maria.
Nenhum representante das outras alas foi encontrado para comentar o fato.

Cristina Esteche

Jornalista

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