Inconformados com a postura considerada antidemocrática do presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), que conduziu ontem (25) a convenção do partido, integrantes do diretório regional entraram com uma ação cautelar contra a decisão da legenda de apoiar a candidatura da presidenta Dilma Rousseff. Oito membros do Diretório Nacional do partido pedem uma liminar para suspender os efeitos da convenção e a posterior anulação da reunião de maneira definitiva pela Justiça Eleitoral.
Uma das representantes do grupo de insatisfeitos, a senadora Ana Amélia (PP-RS) disse que o presidente Ciro Nogueira “atropelou” o direito de manifestação dos demais colegas ao não colocar em votação durante a convenção uma moção que pedia a neutralidade do partido em relação à disputa presidencial. Nogueira colocou em votação simbólica apenas a proposta de transferir para a Executiva Nacional do PP a decisão e declarou encerrada a convenção. Em seguida, entrou rapidamente em seu gabinete e saiu anunciando que a Executiva tinha aprovado o apoio à reeleição de Dilma.
“Ele serviu um prato feito e queria que a convenção fosse homologatória e não decisória. Ele queria que a gente homologasse aquilo que ele já vinha anunciando nos jornais. Nós ficamos sabendo sobre as intenções deles pelos jornais”, disse a senadora.
Ana Amélia defende a neutralidade do partido para que seus membros fiquem livres para apoiar o candidato que julgarem ser o melhor. Segundo ela, somente com a determinação de neutralidade pela convenção, os dissidentes terão “segurança jurídica” para se aliar a outro candidato que não a presidenta Dilma. “A interpretação dos especialistas em legislação eleitoral é que eu não poderei usar o Aécio Neves na minha propaganda. Se eu o fizer poderei ser questionada pelos adversários. A questão é também que essa decisão deveria ter sido submetida aos convencionais de forma aberta e democrática e não foi assim. Foi feito de forma truculenta”, reclamou a senadora.
Para ela, se a moção que pedia a neutralidade tivesse sido votada, teria sido aprovada. “Cheguei lá imaginando que a maioria fosse pela reeleição da presidenta da República, mas no desenrolar das manifestações dos parlamentares e dos líderes eu fiquei convencida de que havia ali uma tendência muito forte pela neutralidade. Por isso ele ficou agastado quando eu coloquei a questão de ordem, ele não queria colocar em votação a questão da neutralidade. Ora, isso não é uma atitude democrática”, disse.
Apesar do embate entre alguns representantes de diretórios estaduais e o presidente do partido, Ana Amélia não acredita que a legenda ficará abalada. “Você viu o que aconteceu com outros partidos, viu o que aconteceu com o PMDB [onde cerca de 40% dos convencionais votou contra o apoio a Dilma]? Essas divergências são normais em todos os partidos. Só que as coisas não podem ser impostas assim: eu quero e pronto”, afirmou.
Nota divulgada pela assessoria de imprensa do PP esta tarde comunica as decisões aprovadas oficialmente na convenção e diz que apenas dois diretórios discordaram delas, os de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. “O Partido Progressista segue coeso e caminha de forma coerente com sua proposta de continuar contribuindo para o desenvolvimento do país”, diz o texto.
No entanto, a moção que pedia a neutralidade também tinha sido aprovada pelos diretórios de Santa Catarina, do Rio de Janeiro, de Goiás, do Amazonas e do Ceará. Se a convenção de hoje for anulada e os convencionais do PP decidirem pela neutralidade nas eleições presidenciais, o tempo de televisão ao qual o partido tem direito deverá ser dividido igualmente entre todos os candidatos à Presidência da República. Nas eleições de 2010 o PP optou pela neutralidade.