22/08/2023
RSN na Copa do Mundo

Brasileira que mora na Alemanha conta o que sentiu com vexame da seleção

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Foto: Carol e as filhas Luiza e Emilia

Por Luiz Carlos Knuppel Junior

 

A brasileira Carolina Krauss Céspedes vive há 15 anos na Alemanha e inclusive é casada com um alemão com quem tem duas filhas, também alemãs. Em entrevista a RSN, Carol contou como foi assistir ao jogo e ao vexame da seleção no “território inimigo”.

Para Carol, a partida entre as duas seleções era bastante esperada, pois colocava frente a frente o país onde nasceu e o país onde mora há tanto tempo e que é o lar de suas filhas e seu marido. “Como quase todo brasileiro, eu também tinha a esperança de pelo menos chegarmos à final. Estava ansiosa esperando pelo jogo Brasil e Alemanha, afinal vivo no país há quase quinze anos. Meu marido é alemão e minhas duas filhinhas também”.

A expectativa pelo jogo e o bom começo da seleção brasileira até animaram Carol, porém o começo da goleada alemã tratou de mudar o sentimento da brasileira. “O jogo começou bem, meu marido até comentou que nos primeiros minutos o Brasil estava pressionando. Mas de repente veio o primeiro gol, e eu achei que tinha sido um gol brasileiro. Nem consegui pensar direito e ai  já veio o segundo e dai o terceiro e o quarto.  Não podia crer no que via e em mim surgiram sentimentos fortes de tristeza, vergonha, desilusão. Uma dor na garganta e mais tarde muita dor de cabeça” relatou a brasileira.

Apesar do sentimento de ver sua seleção sendo humilhada, Carol tentou ainda esconder o que sentia. “Eu e meu marido estávamos sozinhos vendo o jogo e eu não demonstrei o que estava sentindo. Mas por dentro tinha uma vontade de explodir, de me levantar e ir dormir, de sair correndo e de pedir: por favor, acabem com o jogo agora, se continuar assim os alemães fazem mais uns dez. Cada gol doía muito, mas continuei sentada, sem acreditar e com muito medo, com a sensação que iria explodir, uma explosão de sentimentos para todos os lados.
Foi rápido demais. O sonho acabou rápido demais.”

Mesmo com a derrota humilhante, Carol conta que os alemães e seu marido, apesar de estarem obviamente bastante felizes e satisfeitos, não tiraram sarro ou fizeram chacota com o Brasil. “Meu marido também não acreditava no que via, mas é claro que ele gostou. Por Momento algum ele me provocou ou tirou sarro. Respeitou, Sem mesmo saber que dentro de mim estava doendo demais. Sou grata a ele por esta postura respeitosa.”

Mesmo depois do apito final, o sentimento de humilhação que Carol sentia não cessou. Ainda mais depois de ver nas redes sociais os comentários dos brasileiros, principalmente aqueles que misturavam política e futebol. Os comentaristas alemães na TV se deliciando com sua superioridade fizeram o sentimento dela voltar ainda mais forte.“Quando acordei, li algo que uma amiga escreveu no Facebook. Misturando futebol com política, generalizando tudo, e é claro colocando toda a culpa de tudo no atual governo.Os sentimentos voltaram, fui passear na praia para arejar a cabeça, mas via por todos os cantos bandeiras alemãs e pessoas rindo, o que por sinal não se vê aqui normalmente. Quanto aos outros alemães, ouvi um pouco na TV. Eles gostam de enfatizar que são melhores em tudo e isso me da um pouco de raiva. Por experiências anteriores sei que vou encontrar gente, que vai tentar me humilhar usando o Brasil para isso.”

Para o jogo final, Carol se sente dividida. Segundo ela, uma parte  dela torce pela alegria de sua família e de sua segunda nação, outra parte prefere a derrota alemã para deixar de ouvir provocações. “Tenho que confessar que uma metade de mim quer que a Alemanha vença, não quero ver o meu marido triste.  Pelo meu marido quero que a Alemanha ganhe, mas pelos “sarristas de plantão” e arrogantes, quero que a Alemanha perca. É muito diferente acompanhar o Brasil por fora. Foi muito bom ver o Brasil todo dia na TV e foi muito triste ver o Brasil ser acabado pela minha segunda nação” finalizou Carol.

Cristina Esteche

Jornalista

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