22/08/2023
Segurança

Vítima de sequestro conta como sobreviveu a 9h30 de pânico

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Por Cristina Esteche – Foto retirada do facebook 

“Ganhei um presente de aniversário. Nasci de novo”. A frase foi dita pela senhora Solange Meurer, 59 anos completados nessa quinta (17), vítima do sequestro praticado no estacionamento de um supermercado na Vila Bela, na noite de quarta (16), em Guarapuava.

Foram nove horas e meia de pânico que começaram às 20h30 quando a vítima abriu a porta do carro, uma Nissan Frontier, prata, placas AUK 1756, de Guarapuava, para guardar as compras que havia feito e que seriam complementos para o jantar.

“Quando eu cheguei perto do meu carro vi que tinha outro veículo escuro e um homem parado falando ao telefone, mas não me importei. Mas quando abri a porta da caminhonete senti um revólver no ouvido. O homem pediu que eu entrasse, ficasse bem quietinha e fizesse tudo o que ele mandava”. Andando por várias ruas, sem conseguir raciocinar Solange contou à Sul de Notícias que só pensava na filha, no neto e na sua saúde. “Eu sou hipertensa, a minha boca secou e eu quase não conseguia respirar. A minha cabeça virou um turbilhão, mas fui fazendo tudo o que homem mandava, pois tinha um revólver encostado na minha nuca”.

De acordo com Solange, o sequestrador falava o tempo todo, e dizia que não aconteceria nada comigo seu cumprisse as suas ordens, pois só queria o meu carro. Fui dirigindo e ele mandava eu apressar até que saímos na BR 277. Pensei em jogar o carro contra uma árvore, mas ele dizia que se eu fizesse alguma coisa, o mínimo que aconteceria seria ficar aleijada”.

Na rodovia, o homem a fez passar para o banco ao lado e assumiu o volante. “Eu estava tão nervosa que não conseguia nem rezar”. De repente, o telefone celular de Solange toca. “Eu vi que era minha filha e tive permissão para atender. Disse que estava no estacionamento do supermercado e pedi que ligasse para o meu sobrinho me buscar”. O pedido da vítima foi uma espécie de senha para a filha, já que o sobrinho citado é policial. Em seguida, o sequestrador mandou que Solange retirasse a bateria do celular, impossibilitando qualquer outro contato. Durante todo o trajeto Solange ficou com a cabeça entre as pernas, abaixada.

Nas proximidades do Rio Coutinho, o veículo entrou numa estrada secundária. “Era uma estrada de chão que nos levou a um matagal onde outros dois nomes nos esperavam. Me colocaram capuz na cabeça e fui empurram para fora do carro. Caí de joelhos e fiquei assim por muito tempo. Meu corpo doía muito. A caminhonete sumiu e fiquei com os homens. Ninguém falava.” Não aguentando as dores que sentia, Solange disse que pediu para mudar de posição. “Me pegaram pelos braços e me puseram sentada. O silêncio continuava, mas percebi uns passos e virei a cabeça. Mandaram eu não me mexer. Fiquei imóvel por um bom tempo até que vi que já não havia mais ninguém. Mesmo com muito medo saí caminhando pelo mato. Estava muito escuro e enxerguei luz e fui indo, mas acabei num banhado”. Fazendo o caminho de volta Solange seguiu o mesmo caminho dos sequestradores. “Eu estava passando um terror, mas tinha que pedir ajuda. Com muita dificuldade para andar cheguei na BR, sentei no meio fio e fiquei até me recompor um pouco”.

 Com o movimento da BR 277, Solange começou a gritar, pedir socorro. “Eu sai caminhando e gritando, abria os braços, mas ninguém parava, nem mesmo um carro de polícia que passou. Eu tinha muito medo, mas as luzes da rodovia me faziam caminhar ainda mais”.

Nesse período, a família  movimentou as redes sociais noticiando o desaparecimento de Solange e a polícia foi acionada. “Não acreditei quando vi o carro da polícia e fui socorrida, Eu gritava que estava morrendo, que me ajudassem. Fui levada para o postão [Urgência 24 Horas do Trianon]; a minha pressão estava alterada, e não acreditei quando cheguei em casa.

O dia seguinte, nessa quinta (17), dia em que comemorou aniversário, Solange passou entre depoimentos e refazendo o percurso até o matagal onde foi abandonada pelos sequestradores. “Foi e está sendo muito difícil. Tenho medo de ficar dentro da minha própria casa, porque esses homens sabem tudo de mim já que ficaram com minha bolsa e todos os meus documentos. Eles sabem onde moro”.

De acordo com Solange, apesar do terror enfrentado, a violência psicológica é a que mais dói. “Não desejo que ninguém passe o que eu passei. Guarapuava está muito violenta. Ontem mesmo na delegacia encontrei outra mulher que estava resgatando a caminhonete. Ela foi vítima de sequestro assim como eu e disse que ficou amarrada dentro de uma valeta. Fiquei sabendo de mais quatro casos semelhantes envolvendo mulheres e outro com um homem”.

Cercada por familiares e amigos, Solange disse que está procurando se recompor. “Estar aqui viva é a maior benção do mundo. Eu nasci de novo”, diz.

Cristina Esteche

Jornalista

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