Por Cristina Esteche – Foto: Protesto ganhou as ruas da cidade até o Fórum
+Promotora que pediu prisão de funcionários se reúne com comissão
A promotora Caroline Chiamulera, responsável pela 8ª Promotoria em Guarapuava alegou desconhecer o procedimento para a recepção de pacientes oriundos de outros municípios em hospitais da cidade. A confissão foi feita à comissão composta por três funcionários do Hospital Santa Tereza, incluindo o Diretor Clínico Frederico Virmond Neto, e outros dois do Hospital São Vicente, na manhã desta terça (29). A comissão foi recebida após a caminhada de repúdio que levou funcionários e diretores dos dois hospitais até o Fórum Desembargador Guarita Cartaxo. O ato protestou contra a prisão de dois funcionários, um de cada hospital, acusados pela promotora por omissão de socorro e corrupção passiva, respectivamente, pelo não atendimento de um bebê com seis meses de idade, oriundo do município de Pinhão, sem encaminhamento da Central de Leitos, conforme preconiza a Secretaria Estadual de Saúde no caso de pacientes de outros municípios.
A prisão, considerada arbitrária pelos hospitais, provocou uma caminhada até o Fórum como protesto à atitude pontual do Ministério Público. “Ela [promotora] achou que os hospitais tinham que receber qualquer paciente que chegue mal. Ele assumiu desconhecer os procedimentos legais quando o paciente é de outro município”, disse a responsável pela recepção do Hospital Santa Tereza, Sandra Sofia Storer, membro da comissão.
Questionada duas vezes pelo diretor clínico do Santa Tereza, o médico Frederico Virmond Neto, sobre a ação que tramita contra os dois funcionários, a promotora não respondeu. A ação continua.
De acordo com Sandra Storer, Caroline Chiamulera solicitou que os dois hospitais encaminhem ofícios à 8ª promotoria explicando os procedimentos para a recepção de pacientes.
O CASO
+Funcionários do Santa Tereza repudiam prisão de colega
A prisão de dois funcionários, um do Hospital São Vicente e outro do Hospital Santa Tereza, aconteceu na quinta (24) quando uma criança do município de Pinhão chegou até os dois hospitais sem encaminhamento da Central de Leitos. Como a mãe e uma tia do pai do bebê de seis meses de idade não quiseram aguardar atendimento no Hospital São Vicente seguiram até o Santa Tereza. Com a ausência de um pediatra, a tia abordou o médico Marco Aurélio Bisineli, pediatra, que estava na rua. “Ela me solicitou uma consulta particular e eu a atendi. Eu já tinha saído do hospital”, explica o médico. Segundo ele, a criança chegou sem encaminhamento à Guarapuava. “O encaminhamento feito pelo médico de Pinhão era para o hospital daquela cidade e não sei quem liberou uma ambulância para que esse paciente visse a Guarapuava sem a documentação legal”, observa o pediatra.
Após o internamento do bebê, repassado por Bisineli ao médico de plantão, a tia do pai do bebê retornou ao hospital para fazer o pagamento da consulta. O cheque em questão era assinado pela própria promotora Caroline Chiamulera, patroa da mulher que insistiu para que o recepcionista pegasse o pagamento. “O funcionário tinha acabado de assumir o plantão e não sabia o que estava acontecendo já que o atendimento inicial foi feito por outra funcionária”, disse a secretária administrativa Mariângela Esteche.
Dois policiais pertencentes ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) deram voz de prisão ao recepcionista. Antes, porém, já haviam detido a funcionária do São Vicente. “Nosso funcionário ficou preso por mais de um dia, em cela com outros presos, como se fosse um marginal”, observa Mariângela.
De acordo com o promotor, corregedor do Gaeco, Mauro Dobrowolski, os policiais não receberam ordens do órgão para efetuar as prisões. "Foram chamados porque estavam mais próximos, mas não fomos parceiros nessa atuação", assegura.
TEMOR
O medo e a insegurança tomaram conta dos funcionários dos hospitais da cidade. “As pessoas não querem mais trabalhar na recepção porque não sabem mais quem é policial e quem é paciente”, diz Mariângela Esteche. “Estamos com medo. Somos pais e mães de famílias e estamos sendo tratados como marginais”, emenda uma enfermeira que preferiu não ser identificada. “Se estamos indo presos quando estamos trabalhando e cumprindo ordens, imagine se colocar o meu nome aí”, argumenta.