22/08/2023

Trabalho e diversão

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Esses dias escutei de um amigo: Nossa Luanda preciso de um trabalho como esse seu, você não faz nada, só viaja, ganha uma grana e ainda tem vários dias de férias, as vezes tira férias até duas vezes por ano. Nem  respondi nada pra ele, só pensei,  não sabe nada inocente, tenho certeza que você não duraria nem um mês abordo.

Como disse em um post anterior, nem tudo é um mar de rosas. Nós trabalhamos em média de 10 a 12 horas diárias, todos os dias durante seis a oito meses. E normalmente nossa folga é uma vez por semana, um almoço livre. E para se ganhar um dia todo livre, tem de ser por mérito, tem de ser o melhor vendedor  de vinhos da semana, ou ter maior número  de comentários de passageiros. Claro isso depende do maitre, mas a maioria dá essas gratificações.

Quem vê minhas fotos nas redes sociais, fala nossa, essa daí ta com a vida ganha. Mas não sabem o tanto que eu faço para ter tudo isso. São muitas e muitas bandejas carregadas, e não é uma simples bandeja, são super bandejas. Só um tripulante sabe o que é chegar em  uma hora de pico para trabalhar,  com o Buffet bombando e seu supervisor  mandar você  limpar o Grill num calor de 40 graus. Ou em um dia de hora para frente, você já trabalhou até meia noite e meia, com uma hora pra frente sendo que no outro dia já vai começar a cinco e meia da manhã. Dia de embarcação você chega à sua estação e descobre que tem vinte russos para atender, e ai você pergunta, ta e daí? Eu não falo nada em Russo? E alguém responde, busca La vida.

Você numa correria sem fim, e o supervisor fala senhores todos ao centro agora, você  não tem nada pronto. E fica escutando, senhores precisamos aumentar a venda de vinhos, senhores precisamos melhorar o rating, senhores esta tendo muita quebra de materiais, senhorita, arruma seu cabelo, passa graxa no seu sapato, senhores amanhã temos inspeção de cabine, hoje temos limpeza geral,fechem as cortinas,  garçons a La puerta, abrimos em um minuto. Senhorita Luanda Oficina, o que eu fiz dessa vez? Estava mascando chicletes, assina um papelito (advertência).

Desculpa quem pensa que a gente não faz nada, fazemos e muito e somos cobrados todo o tempo por tudo. Essa vida não é para qualquer pessoa. Como diria aquele velho deitado: Só os fortes sobrevivem.

Achou que ia conhecer o mundo de graça, se enganou meu bem, entrou de gaiato no navio.

E a diversão onde fica? Nas horas que não estamos trabalhando, estamos nos divertindo.

 Pode parecer estranho, mas eu amo o meu trabalho. Masoquista??? Talvez…

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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