22/08/2023
Segurança

Menos de 1% das denúncias contra médicos terminam em punição

Um levantamento do Conselho Regional de Medicina de São Paulo mostra que menos de  1% das denúncias contra os médicos terminam em punição, com a cassação do registro. Um dos punidos foi Roger Abdelmassih, preso esta semana no Paraguai. Depois da prisão, novas vítimas apareceram e acusam o ex-médico de abuso sexual.

Mais mulheres se sentiram encorajadas a procurar a polícia. Por outro lado, teve vítima que fez a denúncia aos promotores e policiais mas desistiu do processo no Conselho Médico, acreditando que o corporativismo fala mais alto.

A prisão de Abdelmassih em Assunção, no Paraguai, encorajou outras mulheres a procurarem a polícia. A delegada da mulher já tem mais um depoimento e recebeu telefonemas de outras três vítimas. E um novo inquérito apura as denúncias de manipulação genética.

“Uma mulher que ficou grávida de gêmeos e que a idade gestacional foi diferente e portanto a criança nasceu com problema que poderia se escolher o sexo, que houve turbinamento dos óvulos com óvulos de mulheres mais jovens”, explicou Celi Paulino Carlota, delegada da mulher.

O Ministério Público investiga quem ajudou na fuga e como Roger Abdelmassih ficou três anos no Paraguai, levando uma vida de luxo, com o nome falso de Ricardo Galeano.

“Quais as pessoas estão envolvidas, pessoas físicas, pessoas jurídicas talvez e de que maneira esse dinheiro chegava até o Roger”, afirmou Luiz Henrique Cardoso Dal Poz, promotor de Justiça.

A estilista Vana Lopes é uma das criadoras da página na internet "Vítimas de Roger Abdelmassih". O grupo ajudou a polícia a localizar o ex-médico e quer continuar cooperando. “O ‘Vítimas’ recebeu 300 documentos de transferências bancárias, contratos de gaveta, todos dessa moça que se casou com ele, Larissa Maria Sacco e sua irmã Elaine. E também as transferências das cotas da clínica para filha dele, para alguns amigos dele”, diz Vana Lopes.

As mulheres do grupo dizem que entregaram os papéis ao secretário da Segurança. Elas dizem que se sentem mais livres, agora que o estuprador está preso. “Apesar de termos derrubado toda a empáfia dele, tirar o diploma médico, ele ser cassado, em um país como o nosso, é muito difícil conseguir isso, mas a gente queria mais, a gente queria ele preso, cumprindo a pena que ele recebeu”, disse Helena Leardini, dona de casa.

Cassar um médico é difícil mesmo no Brasil. Em São Paulo, de 2010 a 2013, o Conselho Paulista de Medicina recebeu entre 10 mil e 15 mil denúncias. Cancelou o registro de 33 médicos e só 14 dessas cassações foram confirmadas pelo Conselho Federal. Duas por abuso sexual.

Uma delas, a de Roger Abdelmassih. Evanilde Cerebrenik é uma das vítimas, sofreu abuso na clínica, quando tentava engravidar. Diz que levou oito anos para ter coragem de fazer a denúncia. Ela fala que foi ouvida por promotores, jornalistas e policiais. Mas, no Conselho Regional de Medicina, se sentiu desencorajada. “A impressão que eu tive ali, que tinha sido eu que tinha abusado do médico”, conta a empresária Evanilde Cerebrenik.

O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo diz que o número de denúncias de abuso sexual varia muito: de 30 a 80 por ano. E diz também que são as mais difíceis de investigar. Porque, normalmente, não há provas nem testemunhas. É a palavra da paciente contra a palavra do médico.

“Não existe uma negligência do Conselho em ouvi-la, nada disso. O que existe é esta colocação que se faz, que é palavra contra palavra. Neste caso aí, quando a denúncia explodiu, não restava mais dúvida, fizemos uma fiscalização na clínica dele e o processo andou muito mais rapidamente”, ressaltou João Ladislau Rosa, presidente do Cremesp.

O Conselho Regional de Medicina de cada estado tem 42 conselheiros, não importa o número de médicos do estado. São 118 mil médicos hoje, em São Paulo. O conselho paulista formou um grupo para estudar casos de assédio sexual e definir o perfil do assediador. Espera, com isso, identificar os casos mais rapidamente.

Cristina Esteche

Jornalista

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