22/08/2023
Agronegócio

Lacerda Werneck ficou pequeno para a Expogua

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Guarapuava – Por Cristina Esteche
A Exposição-Feira Agropecuária e Industrial de Guarapuava, a tradicional Expogua, neste ano em sua 34ª edição, é sucesso consolidado e o seu porte já não cabe mais nas antigas instalações do Parque de Exposições Lacerda Werneck.
Com uma área de 35 mil metros quadrados, pavilhões que não comportam mais novas reformas, e sedes dos núcleos de criadores de Charolês, de Bezerros, Associação de Ovinocultores do Paraná (Ovinopar), o antigo Campo da Aviação, como sede do Parque de Exposições Lacerda Werneck já não serve mais. O crescimento da cidade incorporou o local à área central, estrangulando grandes eventos, principalmente a Expogua.
“Os barracões por serem antigos são muito grandes e provocam um mau aproveitamento de espaço. Hoje, as estruturas têm que ser funcionais, mas não temos recursos para essa revitalização”, já observava o ex-presidente da Sociedade Rural, Jairo Luiz Ramos Neto quando a entidade assumia a administração do Parque e da Expogua, ainda durante a gestão do ex-prefeito Vitor Hugo Burko.
O Parque foi cedido à Sociedade Rural em regime de comodato e o contrato só vence em 2011. Antes, porém, os agropecuaristas perderam a área onde foi construído o Núcleo Residencial 2000 no Alto da XV. O terreno, por ser próximo à BR 277, o que facilitaria a chegada e saída dos animais e de visitantes, por ser longe do centro da cidade e por não haver residências próximas, foi desapropriado para sediar o Parque de Exposições, mas o então prefeito Vitor Hugo Burko decidiu destiná-lo a moradias populares, e o Lacerda Werneck acabou ficando onde está, e cedido à Sociedade Rural.
O crescimento da Expogua a partir da privatização do evento é evidente. Cresceu o número de expositores vindos das mais variadas regiões brasileiras. Os barracões com animais da mais variadas raças de alto padrão genético colocam Guarapuava no “ranking” de uma das mais conceituadas exposições-feiras agropecuárias do Sul do País.
As raças bovinas Charolês, Angus, Brahman, Canchim e Nelore, além dos equinos das raças Crioula e Quarto de Milha, com as variadas raças de ovinos e caprinos garantem estimativas de negócios que podem chegar à cifra de R$ 2 milhões, segundo o presidente da Sociedade Rural, Nelson Virmond, o equivalente ao dobro do que foi comercializado em 2008.
Os animais, entretanto, pela falta de estrutura adequada, têm que ser recebidos em dois turnos. Tudo o que divide, fragiliza.
No Pavilhão da Indústria e do Comércio os 74 estandes foram vendidos e expõem, principalmente, a produção de Guarapuava. “A Expogua gira a economia de toda a cidade, principalmente com a rede hoteleira e gastronômica”, disse Virmond.
Leilões, seminários e palestras técnicas também contribuem para a melhoria técnica dos produtores.
A cobrança de ingressos no Parque Lacerda Werneck durante o período de exposição-feira provocou o incremento de atrações artísticas e coloca Guarapuava no circuito dos grandes shows nacionais, sem desmerecer a chamada “prata da casa”. Melhorou também a estrutura do parque de diversões que funciona, paralelamente, aos shows de cada noite. O barulho é inevitável, assim como o descontentamento por parte de quem mora nas adjacências do Lacerda Werneck.
“Todo o ano é a mesma coisa. Começa a Expogua e o volume dos alto falantes dos shows incomoda moradores da região e, como sempre, não temos a quem recorrer. Quando digo alto e bom som quero dizer que é quase impossível ouvir a própria tevê dentro de casa”, reclama um morador que pediu para ser identificado apenas como Valdeci”.
Outros moradores da região fazem eco às reclamações. “O som do parque de diversões e dos shows parece estar dentro do meu quarto. Amanhecemos acordados durante a Expogua e todos trabalham e estudam, e têm que levantar pela manhã”, reclama a dona de casa Dercy Moreira.
Mas se os altos decibéis fogem à fiscalização e “atordoam” moradores, outro inconveniente atrapalha a transferência do Lacerda Werneck para outro local. E que é pior: reside no campo político.
Em 2005, quando o prefeito Fernando Ribas Carli assumiu a Prefeitura quis colocar em prática uma promessa eleitoral de que a entrada no Parque em tempo de Expogua seria de graça, com os portões abertos. Prometeu o que não poderia cumprir, porque o evento estava terceirizado e sob o comando da Sociedade Rural. Entrada gratuita? Só se a Prefeitura bancasse os custos dos shows.
A resposta veio em seguida, bem ao estilo “carlista”. Pela primeira na história da Exposição-Feira, então na sua 30ª edição anual, a Prefeitura se retirou do evento, enquanto outros municípios da região aproveitavam o espaço para divulgar suas ações.
O ex-Procurador do Município, Fabio Martins Ribas, entrava na “arena” tendo como arma a tentativa de reverter ao Município a área cedida em comodato à Sociedade Rural. Enquanto isso, o discurso oficial do prefeito é que o local seria transformado numa vila olímpica.
Iniciava aí uma briga judicial que se arrasta até hoje. A Prefeitura alega que a Sociedade Rural descumpriu cláusulas contratuais; a entidade reage e diz que fez tudo o que era previsto em contrato. “Não questionamos a decisão do prefeito, mas é preciso conversar, debater. A Ovinopar, por exemplo, está no Parque há mais e 30 anos e não pode sair de lá desse jeito, de uma hora para outra”, já argumentava Jairo Neto.
O atual presidente Nelson Virmond não pensa diferente. “A prefeitura há cerca de oito ou dez anos cedeu o Parque de Exposições em comodato, para que a Sociedade Rural realizasse as feiras. Este comodato vence em maio de 2011. A prefeitura há cerca de cinco anos quer este terreno, e a Sociedade Rural não estava querendo sair ou sairia se tivesse outro local pronto”, observa.
“Estamos fazendo uma conjunção de forças entre o governo do Estado, o Município e a Sociedade Rural para resolver essa situação. O Governo estadual se mostrou simpático à idéia de nos doar um terreno, não sei ainda se em comodato ou doação. Vamos pedir à Prefeitura para que o investimento que seria feito com a desapropriação de área seja revertido em construção da infra-estrutura do novo parque”.
Segundo Nelson Virmond, Guarapuava já merece um parque de exposições maior e mais funcional.
Essa necessidade encontra aval também no aumento no número de pessoas que visitam a Expogua neste ano. Segundo a Sociedade Rural, somente nos primeiros quatro dias de feira, circularam pelo parque 27.522 pessoas, o equivalente à média de 7 mil pessoas por dia.
O anúncio de que Guarapuava terá em 2010 o Simpósio Nacional do Milho e a I Festa Nacional do Borrego de Dois Fogos contribui para que Guarapuava, ou melhor, suas lideranças políticas, saiam do passado, se livrem dos resquícios políticos coloniais e coronelistas, desatem os nós do revanchismo (acho que isso é possível, se não para todos, para a maioria) e permitam que Guarapuava cresça, se desenvolva e que a Expogua solte o seu “berro” pelo campo.

Cristina Esteche

Jornalista

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