Uma pesquisa recente sobre o uso medicinal do canabidiol (CDB) mostrou que essa substância extraída da maconha pode ser eficaz no tratamento de pacientes com mal de Parkinson. Segundo o professor José Alexandre Crippa, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto(FMRP) da Universidade de São Paulo (USP), um dos coordenadores do estudo, pela primeira vez, o grupo de voluntários que ingeriu cápsulas contendo canabidiol apresentou melhoras na qualidade de vida e no bem-estar.
O estudo foi publicado em outubro na revista "Journal of Psycopharmacology", da Associação Britânica de Farmacologia.
O CDB é uma substância canabinoide existente na folha da Cannabis sativa – a maconha – que, de acordo com pesquisadores, não causa efeitos psicoativos ou dependência. O elemento possui estrutura química com grande potencial terapêutico neurológico, ou seja, pode ter ação ansiolítica (que diminui a ansiedade), antipsicótica, neuroprotetora, anti-inflamatória, antiepilética e agir nos distúrbios do sono. “Queríamos ver o efeito do canabidiol nos sintomas motores, por isso realizamos um ensaio clínico com pacientes com Parkinson”, explica Crippa.
O mal de Parkinson é uma doença neurodegenerativa que provoca tremores nas extremidades do corpo. Geralmente, 50% dos pacientes desenvolvem quadros de alteração cognitiva. “A pessoa altera a memória, a atenção, sofre efeitos de alteração motora na marcha, no equilíbrio. Além disso, 80% de pacientes com a doença adquirem depressão e transtorno comportamental de sono”, diz Crippa.
Durante seis semanas, a equipe monitorou 21 pacientes com Parkinson, divididos em três grupos – o primeiro recebeu 300 mg de canabidiol ao dia, o segundo 75 mg e o terceiro placebo (sem nenhum princípio ativo). Para que não houvesse influência psicológica e sim um efeito farmacológico eficaz, nem os pacientes, nem mesmo os médicos tinham conhecimento sobre quem estava tomando qual cápsula.
Um terceiro integrante da pesquisa numerou as substâncias e os dados foram cruzados apenas no final, quando foi constatada melhora no quadro dos pacientes que ingeriram canabidiol na dose de 75 mg, e ainda melhor na dose de 300 mg. “O mais importante é que o medicamento não apresenta efeito colateral, ao contrário dos já utilizados”, afirma Crippa.
Conforme o professor explica, as drogas atualmente usadas no tratamento da doença causam efeitos colaterais negativos, como a chamada discinesia tardia, que são movimentos repetitivos involuntários de extremidades, e movimentos da língua e mordidas nos lábios, além de sintomas psicóticos, como escutar vozes, ter delírios e mania de perseguição.
De acordo com o pesquisador, a descoberta abre uma nova possibilidade terapêutica para o mal de Parkinson, especialmente em casos refratários e mais graves, como quando a doença se manifesta na juventude, com a tendência de progredir de forma rápida e severa. “O canabidiol tem se mostrado eficiente para todas essas comorbidades. Seria a droga ideal”, afirma o pesquisador.
VIABILIZAÇÃO
Segundo Crippa, o canabidiol deve ser regulamentado muito em breve e provavelmente até o final deste mês o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) irão classificá-lo.
O professor acha importante ressaltar que o canabidiol não é maconha, é apenas uma substância presente na planta. Ele afirma que para evitar qualquer tipo de equívoco a respeito de sua aplicação um site sobre o assunto será lançado em breve. “Não existe maconha medicinal e sim substâncias medicinais. A maconha fumada invariavelmente traz danos à saúde. O uso crônico, principalmente de adolescentes, causa danos cerebrais e aumentam em 370% a chance de desenvolver esquizofrenia”, alerta.