22/08/2023

Eleições e Esporte Parte II – As polêmicas do 2º turno

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Há alguns dias escrevi um texto sobre a atuação dos “esportistas-políticos” no 1º turno das eleições gerais. Hoje, volto a falar sobre o posicionamento político de algumas personalidades esportivas, dessa vez no 2º turno da campanha eleitoral.

Antes, porém, é necessário que eu reitere a minha imparcialidade jornalística, já que nos tempos atuais aparentemente ter uma opinião é necessariamente escolher um dos lados desta política “bi-partidária”. Vale salientar também, que não sou um desses xiitas que não respeitam as opiniões de ninguém. Pelo contrário respeito a diversidade de pensamentos, opiniões e posicionamento político, mas algumas vezes questiono a forma e as razões com que isso acontece.

Passado o momento de explicações necessárias, vamos aos fatos:

É inegável que neste segundo turno presidencial muito pouco se falou de esporte, já que assuntos como economia, política tributária, corrupção e outros temas deram o tom nos debates. Porém, algumas personalidades esportivas conseguiram estampar as manchetes políticas em meio ao embate eleitoral.

Ronaldo Fenômeno foi um deles. Apoiador declarado de Aécio Neves, o ex- jogador chegou a ser cogitado como nome forte para assumir o Ministério do Esporte e participou de caminhadas pró-Aécio no Rio de Janeiro. O interessante nessa história toda é que há pouco tempo Ronaldo estava do outro lado, e como membro do Conselho Administrativo do COL (Comitê Organizador Local) da Copa do Mundo apareceu várias vezes ao lado de Dilma, defendendo os pesados investimentos para a realização da Copa e tendo papel importante no dialogo entre Governo Federal e CBF.

A relação entre o fenômeno e o governo começou a ruir pouco antes do Mundial, com uma declaração polêmica criticando a desorganização e a burocracia do governo federal e dizendo estar envergonhado com o fato do Brasil sediar a Copa. (veja aqui)

Durante sua passagem como membro do COL, Ronaldo sofreu com outra polêmica ao afirmar que “Copa não se faz com hospitais, mas sim com estádios” e foi muito criticado pelos oposicionistas. Hoje, porém, o nome do atacante para ministro foi visto com bons olhos pelos apoiadores do tucano. (veja aqui)

Outro que já esteve nos dois times foi Neymar, o atacante que tem contrato com a 9ine (empresa de Ronaldo Fenômeno) participou juntamente com o próprio Ronaldo, Kaká e Dilma de uma estranha conversa no Twitter em 2013 sobre a Copa do Mundo (leia aqui).  A conversa, que não passou de uma nova estratégia de marketing digital, chamada “real time marketing” ajudou a divulgar as obras dos estádios para a Copa e diminuir a pressão sobre o Governo Federal, que sofria com os prazos apertados e as criticas da Fifa.

Agora, o jogador usou novamente a internet para divulgar um vídeo onde declarou apoio a Aécio Neves. Antes disso, porém, o atleta já havia entrado em outra polêmica quando uma falsa foto sua com cartaz de apoio a Dilma foi postada na web.

Segundo sites de bastidores da política e do esporte, a falsa foto teria causado um desconforto tanto para Neymar quanto para Ronaldo e sua empresa, que chegou a produzir uma nota desmentindo a imagem. (veja aqui)

Acostumados a procurar o melhor posicionamento na área para marcar gols, Ronaldo e Neymar parecem também fazer isso na política e caminham de um time para outro sem maiores problemas.

Indignação pós-resultado

Se antes do pleito eleitoral foram os boleiros que se destacaram, após o resultado final foi a vez dos jogadores de vôlei tomarem a frente nas manchetes. Após a vitória de Dilma, jogadores e jogadoras da seleção tomaram as redes sociais e fizeram duras criticas a reeleição da petista.

Capitão da seleção brasileira em Atenas 2004, Nalbert postou seguidas criticas a eleição de Dilma e ao Bolsa Família e afirmou em um post que a reeleição da presidente era como:  “ser assaltado na rua e chamar o assaltante para tomar uma cerveja em casa”. Acontece que Nalbert, desde 2011, integra um programa chamado “Embaixadores do Esporte” do Banco do Brasil, onde recebe mensalmente uma bolsa de R$ 10 mil do banco público (que é o patrocinador oficial do vôlei brasileiro, investindo R$ 60 milhões anuais) para divulgar o esporte pelo país.(leia mais)

Se a eleição foi como chamar o assaltante para tomar uma cerveja em casa, receber dinheiro desse mesmo “assaltante” seria o que Nalbert?

Outra que pegou pesado com o atual governo foi a jogadora da seleção Sheilla, que além de criticar a corrupção do governo PT afirmou que o país se transformaria em uma nova Cuba. Sheilla que agora mete a boca, e com razão, em um governo corrupto, contudo, se calou diante das denúncias de corrupção na Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), que afetou diretamente atletas e arranhou a reputação do vôlei nacional, em beneficio de alguns dirigentes.(Veja mais sobre o caso, em uma matéria investigativa de Lúcio de Castro)

Lucão, outro jogador de vôlei, o sempre polêmico Wanderley Silva e a atleta de handebol Dani Piedade perderam o tom e criticaram com palavrões os eleitores de Dilma. Ora, se o esporte deve ser um exemplo para as futuras gerações, o que esses “atletas” fazem é justamente o contrário, mostrando despreparo, destempero e uma profunda falta de respeito com a democracia.

Veja o que cada atleta disse

Em meio a profusão de criticas e preconceito pós-eleições, atletas como Hulk e Ana Moser ocuparam o outro lado da discussão. Moser (veja) criticou abertamente os colegas de profissão e se disse envergonhada com os jogadores de vôlei. Já o paraibano Hulk tratou de rebater as criticas preconceituosas feitas pelo colunista Diogo Mainardi contra os nordestinos e deu uma resposta que foi um golaço. (veja aqui)

O posicionamento do governo federal

Se discutimos o posicionamento dos esportistas quanto a eleição para o governo federal, temos que discutir também a posição do governo federal quanto aos esportes.

É fundamental que Dilma e Cia olhem com mais atenção para o esporte brasileiro, algo que a presidenta não fez durante a campanha e apresentação de propostas.

Em tempos onde se discute a participação popular dentro dos governos, através dos conselhos populares (entenda mais), seria um bom começo para o novo  governo Dilma melhorar o dialogo entre o governo e entidades como o Bom Senso FC, Atletas da Cidadania entre outros.

Outro ponto fundamental, que será um dos grandes desafios nesse novo mandato, são as Olimpíadas de 2016, que terá que ser um show tanto dentro como fora dos estádios e locais de competição. Afinal, não se pode mais haver falhas e desorganização como houve na Copa, e que acabaram danificando a imagem do país lá fora.

Para isso o governo deve investir em infra-estrutura e no esporte, não necessariamente apenas no Rio de Janeiro, mas em projetos que atinjam o país inteiro. Exemplo disso são os CIEs (Centro de Integração do Esporte) que estão sendo construídos em diversos locais do país (inclusive em Guarapuava) e levarão o esporte a diversas comunidades como forma de legado do Rio – 2016.

Por falar em imagem negativa, o futebol brasileiro que sempre foi um dos “produtos de exportação” de nosso país, bem como uma excelente propaganda e um motivo de orgulho para os brasileiros, se mostrou em crise após a Copa do Mundo, e não somente pelos 7 a 1.

O futebol pentacampeão sofre uma crise ocasionada pela desorganização dos clubes e pelas más gestão e interferências de entidades como a CBF e o STJD. Diante disso, é claramente necessária a reforma do futebol nacional.

Um bom começo foi dado com a Medida Provisória 620, que limita o mandado dos dirigentes esportivos de confederações que recebem verbas federais, contudo, ainda é muito pouco visto que os problemas são muitos mais complexos e graves.

Se Dilma e o governo PT sempre foram voltados as questões sociais, seria de muito bom grado que o esporte também entrasse nessa política social do governo e pudesse cumprir seu papel de transformador social. A criação de  medidas e programas sociais  que tenham como base o esporte ou a inclusão deste nos programas já existentes é importante para esse panorama. 

Cristina Esteche

Jornalista

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