22/08/2023

Ato falho de quem?

Recebi do secretário municipal de Comunicação Social de Guarapuava, Marcio Fernandes, e compartilho:

Ato falho de quem? 

Guarapuava, 2 de novembro de 2014

Ato 1 – Meu filho, Gabriel, 8 anos, dá entrada no Pronto Socorro do Hospital São Vicente de Paulo. O sistema da unidade registra 14h54.

Ato 2 – Não existe. Pelos 80 minutos seguintes (ou seja, uma hora e vinte minutos), ele não é atendido. Em uma instituição de saúde daquele tamanho, apenas uma médica está de plantão. Nenhuma triagem com ele é feita. Nem temperatura é medida. Nada, exceto a espera. A alegação da atendente é que há emergências em andamento.

Ato 3 – Peço à atendente o cancelamento do registro da consulta, por conta da demora. Solicito também livro de queixas, para fazer a anotação de que nem a triagem havia acontecido. Ela informa que não há livro de queixas disponível, ainda que se trate de uma relação de cliente – prestador de serviço, via convênio da Unimed. Na melhor das hipóteses, sou informado, devo procurar a Ouvidoria do Hospital no dia seguinte. Não bastasse isso, ela sustenta que eu não havia pedido que o Hospital tomasse a temperatura de Gabriel.

Ato 4 – A atendente do balcão, Suellen (ou algo assim), resolve se mexer e entra na área reservada aos pacientes que já passaram pela triagem. Quando retorna, tem nas mãos a guia da consulta, para, na sequência, efetivar o cancelamento. Nisto, aparece a médica de plantão, uma tal de Neide Frederico, chamando o paciente seguinte. Estupefato, o próprio paciente diz algo como 'não, não, atende o menino primeiro'. Do alto da sua empáfia, a médica (que se apresenta como 'doutora Neide') alega que não pode receber Gabriel naquele instante, pois já estava com a ficha do outro paciente em mãos. Pergunto se ela não atenderá mesmo Gabriel naquele momento. Não, alega mais uma vez, pois já estava com a outra ficha em mãos. Simples assim.

Ato 5 – Peço ligação para celular de Rui Primak, provedor do Hospital, já que não há outro modo confiável de registrar o ocorrido. Ele admite a falha na triagem mas, de resto, diz que a culpa é do sistema e da Unimed que suga os hospitais, além de comparar o atendimento da emergência do São Vicente com a UPA do Batel e de defender a médica, dentre outros apontamentos.

Ato 6 – Quase duas horas depois de chegar ao São Vicente, deixamos (Gabriel, minha esposa e eu) o lugar, sem atendimento, diante de tamanha ineficiência e descaso.

Neste cenário, começo a pensar que não sabia ser atribuição dos acompanhantes de pacientes ter de pedir a funcionários do Hospital que vejam a temperatura destes mesmos pacientes. Fico também a imaginar se a tal doutora Neide é tão eficiente no atendimento em consultório quanto é na hora de cumprir burocracias. Fico ainda a refletir se o São Vicente e a Unimed tomarão alguma medida de fato, mudando procedimentos, ou se serão corporativos, protegendo a tal doutora Neide Frederico (CRM 21858), alguém que é, salvo melhor juízo, médica, no máximo. Doutora, só para esclarecer, é a profissional que conclui doutorado.

E mais: de quem é a responsabilidade de, em um domingo qualquer, escalar somente um médico plantonista para tentar dar conta dos atendimentos de urgência e emergência das pessoas que procuram o hospital por conta própria, além dos casos que chegam trazidos por ambulâncias de cidades da região e até mesmo de pacientes da UTI (como uma situação de coma que a médica plantonista e a atendente do balcão informaram em dado momento)?

Sou leigo nisto mas deixo a pergunta: uma UTI não precisaria ter plantonista próprio 24h por dia?

Para você que me lê neste instante, deixo a expectativa de sorte melhor no atendimento no São Vicente, caso necessites algum dia. E a esperança ainda mais forte que Deus te livre de ser a tal Neide Akemi Nakamura Frederico a médica de plantão. Opa: médica não. Doutora.

 

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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