22/08/2023

A verdade não pode fugir

Como escreveu G. Deleuze, filósofo francês, “o problema não é mais fazer com que as pessoas se exprimam”. Ora, sabe-se que a manifestação das pessoas é o grande fenômeno do tempo presente. A grande questão que se coloca não é mais a quantidade de informação e o número de pessoas que se expressam com grande liberdade, mas sim "ter algo de valor a dizer” em tempos de crise, em tempos de democratização.  Assim, o que precisamos e que não pode nos escapar é o silêncio necessário para que exista pensamento de verdade.

Ainda estamos na ressaca eleitoral e ouve-se e leem-se coisas inacreditáveis e radicalismos de todas as espécies por aí. Alto lá, precisamos mais que passionalismo, de boa argumentação, seja ela progressista ou conservadora.  Como escrevi anteriormente, quando se entra em um jogo, se aceita as regras do jogo, vital em um processo democrático civilizado.  O Partido dos trabalhadores, muito por conta do considerado ‘voto crítico’, formado por uma parcela significativa da sociedade, intelectuais, Professores, funcionários públicos e um contingente de eleitores do PT antes de o partido se tornar governo, consolidou sua vitória com o “veto a Aécio”.  O engajamento, na reta final, foi visível e fez a diferença. E  agora, como fica ?  O Governo reconhecerá isto ou agirá da mesma forma que antes ?  Há aqueles que dizem: ‘tudo será como é agora, só um pouco diferente’. Há controvérsias.

Por outro lado, a relação de uma parte da sociedade, que sempre esteve em ‘banho-maria’ com o Governo Federal está começando a dizer: “Cansei”, “basta”, “não quero mais jogar este jogo” ou ainda “não reconheço este Governo”, quase sempre inconformados com o resultado eleitoral.   Muitos brasileiros, esclarecidos e vinculados à classe média,  que nunca foram simpatizantes explícitos  de uma ideologia mais à esquerda ou mais ao social,  avalizou  parte do  primeiro e do segundo governo Lula e consequentemente, uma parte do Governo Dilma. Com escreveu  Moysés Pinto Neto ( Doutor em Filosofia pela PUCRS ) , “tratava-se de um apoio circunstancial, auto-interessado, mais no nível do silêncio que do reforço”. E agora, como fica? O que farão? Qual o caminho a seguir?

Por um tempo o Governo Federal sequer teve oposição. Esta é uma verdade clara. O apoio se dava porque o país estava em boa movimentação e em uma fase que combinava crescimento econômico e expansão do social e todos estavam de alguma forma sendo contemplados por um grande ‘guarda chuva’. Algo maravilhoso para qualquer País.  Todavia, o perigo de não crescermos ou crescermos muito pouco traz de volta ‘velhos fantasmas’ e situações inóspitas. Esse perigo é um e apenas mais um capítulo deste período denominado pós-eleições.

Como escreveu um certo ex-ministro da Fazenda: “Não basta conversa. O governo está obrigado a cumprir uma política fiscal responsável”, dito de outra forma: “é crescer ou crescer, não há outra saída”. Não há dúvida que isto parece ser o consenso nos dias hoje, daí todo interesse em saber quem comandará a economia, de que forma comandará e como se dará a necessária governabilidade nos próximos anos.

É cedo para dizer sobre o futuro do PT, PMDB, PSDB, PSB, PSOL e REDE de Marina Silva nos próximos anos. A análise política está em alta e continua tentando explicar a vitória de Dilma e as derrotas de Marina Silva e Aécio Neves. Em particular, sobre Marina Silva, o futuro é uma incógnita. Sabe-se que seu trunfo era ser diferente (mesmo que questionável por muitos). Quando passou a ser igual aos outros, perdeu. O saldo foi: “quanto mais igual ficou, mais votos perdeu”. Aécio veio na onda e beneficiou-se com o discurso do antipetismo, apenas isto. E Dilma? Dilma venceu e agora tem muitos desafios pela frente, sendo um deles ‘governar uma sociedade que aprendeu a se expressar’ e que exige crescimento econômico e a manutenção das conquistas sociais. É cedo para dizer algo, mas se ao menos nossa Presidente assumir o difícil papel de ser gestora da crise, estaremos em boas condições.

Gosto de uma frase de Walter Benjamin que tem relação com esta ideia de que a verdade não pode fugir.  Escreveu: “Espera, que ainda tens muito caminho para andar!”.

 

 

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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