22/08/2023
Cotidiano

Travessia elevada: aos poucos, motoristas e pedestres estão se entendendo

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* Por Rogério Thomas

Aos poucos, os guarapuavanos estão se habituando a uma nova forma de direção em seus veículos, andando com mais calma e prestando mais atenção aos pedestres.

Ao longo dos anos, Guarapuava foi deixando de ser uma cidade do interior, se tornando pólo regional em Saúde, Educação no comércio e na indústria. Milhares de pessoas vêem em determinados dias do mês realizar compras, ou resolver questões bancárias, ou, ainda, agendar ou realizar exames e consultas no setor da Saúde.

Da mesma maneira, diariamente a cidade recebe milhares de estudantes, que vêem em comboios para estudar nas universidades locais.

FROTA

As ruas projetadas no início do desenvolvimento da cidade foram desenhadas para atender o número de veículos daquela época. Porém, hoje a realidade é muito diferente.

Guarapuava possui a 10ª maior frota do Paraná, com mais de 89 mil veículos. Esse número justifica o grande movimento (ou movimento lento) em dias de pico. Fica praticamente impossível achar vagas de estacionamento.

PEDESTRES

Se para os motoristas o grande movimento é complicado, para os pedestres a situação é ainda mais tensa.

Para sensibilizar os motoristas para que eles dêem a preferência para os pedestres, a Prefeitura de Guarapuava, através Surg, iniciou em abril deste ano a implantação de faixas elevadas para pedestres. “É um trabalho constante de conscientização, pois os guarapuavanos ainda não tinham a cultura de respeitar a faixa de pedestres”, diz o presidente da Surg, Fernando Damiani.

Em 2014, foram implantadas 15 faixas, mas os pedidos continuam se avolumando e o projeto será intensificado a partir de 2015. “Temos recebido muitos pedidos para a implantação das faixas. Todos esses pedidos são encaminhados para o Conselho Municipal de Trânsito (Comutra) que avalia a necessidade. Mas, com certeza, é um projeto que traz mais segurança para os pedestres”, afirma Damiani.

CAMPANHA “A FAIXA É NOSSA”

“Pedestre na faixa, motorista que respeita para!”, é assim que motoristas e pedestres são confrontados pela campanha “A Faixa é Nossa”, que tomou corpo em Guarapuava com o objetivo de conscientizar tanto os motoristas quanto os pedestres sobre a importância de um (motorista) parar quando há alguém atravessando a faixa e o outro (o pedestre) cruzar as ruas por ela.

Para a professora da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), uma das coordenadoras do Movimento Pé na Faixa, Patrícia Carla Angeloni de Lima, os resultados da organização da sociedade já aparecem com a implantação das lombadas elevadas em diversos pontos da cidade. “Toda e qualquer mobilização neste sentido faz com que melhorias ocorram e estamos vivendo um momento onde não podemos mais nos dar ao luxo de nos omitirmos. O trânsito está caótico e os registros de acidentes são alarmantes. Por isso convidamos a sociedade a se engajar nesta campanha. Cada um fazendo a sua parte, motorista e pedestre, teremos um trânsito mais seguro”, destaca Patrícia.

Elizabete Correia, que reside na Vila Carli, chega às pressas do outro lado da faixa, mas não consegue esconder um sorriso de satisfação. “O carro parou e eu vim rápido, porque vai saber se ele vai esperar ou não. Ainda bem que esperou e torço pra que todos parem e respeitem sempre os pedestres”, diz Elizabete enquanto ajeita várias sacolas de compra no colo. 

A campanha visa, principalmente, alertar motoristas que passam pela faixa de pedestres sem parar antes da faixa de contenção, mesmo que pessoas estejam esperando para atravessar a rua. “Muito importante este tipo de campanha. Precisamos de uma conscientização total de nossos motoristas e aí me incluo, afinal, somos pedestres também”, diz o motorista Hélio Machado.

O estudante Carlos Conceição chegou irritado ao outro lado da faixa, pois o motorista não parou. “Tem que ser algo que os dois lado (motorista e pedestre) cumpram, senão não dá certo. Eu vou pela faixa, nem que fique mais longe do lugar que ia atravessar, mas o motorista tem que respeitar e parar. Consciência, essa é a palavra”, destaca o estudante.

Para conscientização de motoristas e pedestres, foram distribuídos panfletos junto com explicações no momento em que carros estavam prestes a passar pela faixa de pedestres. Para os motoristas que concordaram e toparam aderir a campanha, um adesivo foi fixado na parte traseira dos veículos com a frase “Movimento Pé na Faixa, eu apoio!”

EXEMPLO DE QUE DÁ CERTO

Enquanto Guarapuava ainda está engatinhando na conscientização dos motoristas e pedestres sobre a importância de usar a faixa, Pato Branco, no Sudoeste do Estado, anda a passos largos e colhe ótimos resultados. “Chegamos a um índice de mais de 95% de eficiência das faixas de pedestres implantadas no Centro da cidade. O trabalho continua para que seja atingida a meta de 100%. Ainda temos muito a fazer nos bairros, mas estamos no caminho”, explica o diretor do Departamento de Trânsito, coronel Esau Borges Sampaio

Um ponto fundamental para que a conscientização sobre a utilização da faixa de pedestres em Pato Branco decolasse,  segundo Sampaio,foi a criação do Departamento de Trânsito de Pato Branco (Depatran). O órgão municipal executivo de trânsito foi criado em 2006 e tem como competência legal operar o sistema de estacionamento regulamentado e rotativo, de veículos automotores e executar a fiscalização de Trânsito, autuar e aplicar as penalidades cabíveis por infrações de circulação, estacionamento e parada, bem como outras atribuições.

“Nós colocamos os agentes na rua para que eles parassem os veículos para que dessem preferencial aos pedestres. Com o tempo esse trabalho passou a se tornar hábito dos motoristas. O importante de tudo é o motorista se conscientizar que o pedestre chegou antes no mundo do que o carro”, destaca o coronel.

“Tão logo o Departamento foi criado, foram iniciadas as campanhas de conscientização. No começo foi meio tumultuado, mas com o passar do tempo os motoristas e, principalmente, os pedestres foram se acostumando. Hoje é um hábito do pedestre atravessar pela faixa e hábito ainda maior do motorista em dar a preferência ao pedestre. Foram oito anos para chegar a esse índice, mas o trabalho está sendo feito para que ele seja melhorado e chegue a 100%”, conclui Sampaio. 

Cristina Esteche

Jornalista

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