22/08/2023
Cotidiano

Zelão luta diariamente pelo resgate da tradição

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Texto e fotos: Lizi Dalenogari

Se olharmos bem para José Maria de Moraes, o Zelão, 47 anos, caseiro de uma Fazenda no Rio das Pedras, a primeira vista pensamos estar diante de um roqueiro ou do cover do Raul Seixas (sim, o chamam de Rauzito do Rio das Pedras). As tatuagens do Iron Maiden, a de um tigre no peito que ele mesmo tatuou, revela a personalidade de um cara eclético que curte forró, rock e principalmente a música tradicionalista.

Sim, Zelão é um autêntico tradicionalista. Não dispensa seu chimarrão diário, e na lida do campo procura estar sempre pilchado, traje de honra do gaúcho. "Passo a vida camperiando aqui ou lá! Cuidando do que é dos outros com muita responsabilidade", conta orgulhoso. Ele também gosta de laçar e desde muito novo se destacava no laço, tradição que passou para os filhos. "Laçava pato no ar, em pleno vôo. Ainda gosto de praticar mas não participei mais de rodeios. Penso em voltar", explica Zelão que sempre que pode participa de cavalgadas com os amigos do Rio das Pedras.

 

Ao lado da esposa Janete Fernandes Ferreira há 25 anos, criou os cinco filhos: Andressa, 23 anos, Andrielsom, 21, Ana Paula, 15, Cleidielli, 11 e Régis de 9 anos no campo e mantendo os ensinamentos de seus pais. "Aqui eles pedem a benção, tem respeito por nós e aprendem a fazer de tudo um pouco. Aqui preparamos eles para a vida de forma sadia e segura, procurando os preservar das loucuras deste mundo. Conversamos enquanto nos alimentamos, trabalhamos juntos, somos um pelos outros e isso é cada vez mais raro hoje em dia", enfatiza.

Conta que se sente triste quando vem para a cidade e presencia cada cena de dar dó. "Hoje um pai cria 100 filhos e 200 filhos não cuidam de um pai. É só ver como estes jovens tratam seus pais e avós hoje em dia. O respeito, o diálogo, o zelo por quem os criou e cria se perderam por aí. É triste", lamenta.

E na vida simples e ordeira do campo Zelão vai, ao lado da companheira e dos filhos menores (os maiores já se casaram e moram na cidade), lutando para que a tradição campeira não se perca, porque nela está o respeito, a doação, e o amor por tudo que protege e honra as famílias. "Sou simples, sou honrado e passo isso para meus filhos sempre dizendo que sem fé e preserverança não chegamos a lugar nenhum. O mundo os espera mas eles estão preparados para enfrentá-lo e este é o maior legado que um pai pode deixar para seus filhos", conclui.
 

Cristina Esteche

Jornalista

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