Entre 2010 e 2014, a quantidade de transplantes de córnea realizados no Paraná apresentou uma ligeira queda, voltando ao patamar de 800 cirurgias anuais, depois de um pico de mais de mil operações. Não há uma única causa para essa diminuição. É fato que novos tratamentos e cirurgias alternativas, menos invasivas, contribuem. Por outro lado, a diminuição do número de doadores acaba fazendo com que as pessoas que precisam do transplante esperem algum tempo na fila.
“O Paraná, há um ano e meio, estava com fila com zero [para transplante de córnea]. Isso é um chamariz grande. Hoje temos uma fila, pequena para quem tinha 1,5 mil pacientes, porém já temos uma fila”, explica Arlene Badoch, diretora do Sistema Estadual de Transplantes, vinculado à Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Ela explica que o alto número de cirurgias em 2011 e 2012 – somadas, foram 2.185 – acabaram por zerar a fila de pacientes que esperavam uma nova córnea, o que também atraiu pessoas de outros estados que precisavam de um transplante.
A oftalmologista Ana Cláudia Mariushi, coordenadora do Banco de Olhos do Hospital de Olhos do Paraná, lembra que novos casos continuam a aparecer. Com isso, a fila de espera voltou a existir. Atualmente, de acordo com os dados da Central Estadual de Transplantes, há 369 pessoas aguardando o transplante, mas só 45 cadastros estão ativos, ou seja, os pacientes estão aptos ao procedimento. Outra 324 pessoas são consideradas semiativas: estão inaptas temporariamente e não participam de listas de seleção para a distribuição de córneas. Elas podem ser removidas da lista caso permaneçam nesse status por mais de 120 dias ou recusem cinco ofertas de transplante.
“A média de tempo de espera é de quatro meses, mas já chegou a ser de três anos”, lembra Ana Cláudia. Para ela, o grande problema enfrentado no setor é a falta de doadores. Ela cita como exemplo a situação do banco de córneas do próprio Hospital de Olhos. Desde outubro de 2014, são 20 doações mensais em média. O maior resultado em um mês foi de 100 doações.
Para Arlene, o Paraná tem “leques de desafios” para superar. Um deles é a subnotificação dos casos de morte cerebral: é preciso mais agilidade para identificar esse paciente e mostrar as opções para a família. “Precisamos trabalhar com as famílias, para ter acolhimento digno, estar bem confortada e acompanhar o processo”, destaca. É esse processo que pode reverter a queda de transplantes para refletir um aumento de cirurgia acompanhado de encerramento da fila de espera.
CIRURGIAS
O Paraná possui quatro cidades-polo para a realização de transplantes de órgãos e tecidos, como a córnea: Curitiba, Londrina, Maringá e Cascavel. Nessas quatro cidades, foram realizados 811 transplantes em 2014: mais da metade (455) na capital.
“O ideal seria ter clínicas capacitadas em outros lugares, mas o Paraná só credencia novos serviços de transplante de córnea se o local atender também pelo SUS”, explica Arlene Badoch, do Sistema Estadual de Transplantes. A fila de espera acomoda tanto pacientes de planos de saúde ou particular quanto do SUS. No caso da córnea, o critério de ranqueamento é a data em que a pessoa entrou nessa fila, sem distinção de estado de origem ou rede pública ou privada. Casos de emergência são tratados como prioridade.
Ao contrário de outros órgãos que exigem que o transplante seja realizado poucas horas após a remoção, a córnea tem uma sobrevida um pouco maior. A oftalmologista Ana Cláudia Mariushi, do Hospital de Olhos do Paraná, explica que, após a morte, a equipe médica precisa retirar as córneas em até seis horas. O tempo poderia ser quatro vezes maior se houvessem câmaras de refrigeração para acondicionar os corpos.
Depois de retiradas, as córneas vão para os bancos de olhos, onde passam por exames e ficam em meios de preservação próprios, refrigerados. “Temos até 14 dias para transplantar, o prazo é bom”, comenta. As córneas são disponibilizadas para a Central de Transplantes, que faz a ponte entre o paciente e o hospital. A partir daí, o prazo para a cirurgia é de 48 horas.