22/08/2023
Segurança

Em carta, internos da PIG contam motivos da rebelião

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Cristina Esteche

A Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República registra uma carta encaminhada por familiares de condenados que cumprem pena na Penitenciária Industrial de Guarapuava (PIG). Escrita por internos logo após a rebelião que aconteceu em dezembro de 2014, o documento relata a situação em que a penitenciária que já foi modelo nacional, encontra-se após o motim e registra, segundo o teor,  falsas informações divulgadas pela imprensa que atribuiu toda a culpa aos internos.

“A antiga direção autorizou agentes a agir com abuso de poder. Também humilhavam nossos familiares nos dias de visita e se reclamavam eram impedidos de nos visitar e nos trazer alimentos”.  Outra reclamação surge mais como denúncia. “Outro fato humilhante era com nossas crianças que chegava ao ponto de agentes tocarem nas partes íntimas das crianças. Nossos familiares também eram obrigados a ficar três horas na fila para poderem entrar”. Outro fato descrito na carta diz que agentes desafiavam os internos dizendo que ali não existiam homens suficientes para fazer uma rebelião e que eles [os agentes] estavam preparados física e psicologicamente para enfrentarem um motim. “Devido a situações como essas, além dos serviços de assistência social e de saúde deixarem a desejar, é que a situação saiu do controle e acabou acontecendo o que aconteceu”.

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A carta manuscrita em duas folhas de papel sulfite relata também a situação da PIG é precária, mas não existe nenhum movimento para novo motim. “Nosso objetivo é arrumar uma solução para os nossos problemas de forma pacífica. Por isso, temos levado nossas reivindicações, junto com o chefe de segurança, à meritíssima juíza da VEP [Vara de Execuções Penais] Patricia Roque Carboniere, que atualmente tem comparecido para conversar”.

Sem as fábricas que funcionavam internamente e que redimiam penas, além de gerar renda para os internos e suas famílias, a escola onde funcionava desde o primeiro até o ensino superior à distância, também deixou de funcionar. É que as instalações e maquinários destruídos durante a rebelião ainda não foram recuperados.

A preocupação dos internos da PIG, é que boatos de novas rebeliões  amedrontaram a classe empresarial que não demonstra mais interesse em manter as fábricas na PIG. “Acontece que as falsas informações colocaram medo nos empresários que tinham intenção de colocar fábricas aqui que, além de nos dar meios para ajudar nossas famílias, ajuda na nossa ressocialização”.

Apelo

Os internos também fazem um apelo aos professores para que a escola retorne  e às igrejas para que levem a palavra de Deus. Por fim, pedem perdão e um voto de confiança à sociedade.

 

Cristina Esteche

Jornalista

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