22/08/2023

Mobilizar ou ser mobilizado?

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Guarapuava sediou neste sábado (07) a maior mobilização popular da sua história. Não tenho a menor dúvida quanto a isso.

O grito uníssono de mais de oito mil professores ecoou pelas ruas da cidade e foi desembocar no Parque do Lago. Porém, ganhou eco na Internet e ganhou o mundo. Foi contra as medidas tomadas pelo governador Beto  Richa, como forma de retrair gastos e revitalizar os cofres públicos, como o governo prega no discurso oficial.

Se o Governo precisa oferecer esse remédio amargo que pegou pesado no fígado do servidor público estadual, para poder retomar a governabilidade, se os  sindicalistas e sindicalizados expõem a sua dor e pregam que a educação está de luto, u numa tradução que entendo ser melhor para que o dito no momento, entra no estágio da agonia, não vem ao caso para mim  neste momento. Deixo essas questões na reserva para ilustrar o que desejo abordar agora.

O que a App-Sindicato demonstrou em Guarapuava, ao vivo, foi uma aula prática de mobilização. Aquelas coisas que só a esquerda comprometida com os anseios populares sabe fazer, e muito bem.

 Quando se fala em mobilização logo vem à mente chavões como passeata, palavras de ordem, gritos de guerra, panfletagem, discursos inflamados. Aquelas coisas que fazem a direita tremer na base. Tudo é isso necessário e ganhou nova roupagem  com o passar dos anos, com a chegada da chamada   da esquerda ligth”, embalada pelo Lula Paz e Amor. Aliás, uma estratégia que deu certo no seu conjunto e que levou o PT ao poder nacional.

 Mas voltemos ao fato de hoje. Está muito mais do que comprovado que mobilizar é sinônimo de fazer participar e em grande quantidade. Mas entendo que fazer parte de uma passeata – ou melhor, caminhada – é diferente de tomar parte, de se envolver profundamente, de influenciar nas decisões que vão mexer com a nossa vida. E isso a App-Sindicato faz e, repito, muito bem.

Vamos tomar como exemplo o que aconteceu em 2013 quando parte da população foi às ruas, protestando contra tudo e contra todos, a partir de convocação feita pelas redes sociais. O objetivo era atingir o Governo Federal, desqualificar a Copa do Mundo e sei mais lá o que. Porque não houve uma mobilização propriamente dita, mas um chamamento que motivou o povo brasileiro, cansado de travar guerra  com a sobrevivência, cansado com a corrupção que deixou de parar debaixo do tapete, mas que agora tem cor, nome, caras.

Teve continuidade? Não! Parou como a bola com chute errado ficou imóvel nas mãos dos goleiros.

Mobilização propriamente dita é  movida pela paixão, pela reivindicação, mas também pela organização, pela conscientização, pela razão, por um projeto de futuro que não sossega. Cito como exemplo o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Melo, já que falam em fazer o mesmo com a presidente Dilma. A mobilização nesse sentido sustentou um processo efetivo de mudança, consolidando o  civismo, fortalecendo a democracia.

O que a App-Sindicato e não é de hoje, é a mobilização no real sentido da palavra, sem associar cidadania apenas à eleição, mas a exercendo e fazendo exercer no dia a dia, na luta contínua, no diálogo crítico.

Em tudo se consegue a vitória? Infelizmente não. Afinal, na maioria das vezes poucos decidem por muitos e estes últimos tem a liberdade de recusar, de virar a xícara, quando um chá amargo lhe é oferecido.

Cristina Esteche

Jornalista

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