22/08/2023
Cotidiano

"Sou Bira, sou Firmeza, sou cria do Xarquinho"

imagem-86361

Cristina Esteche

“Sou Bira, sou Firmeza, sou cria do Xarquinho”. Esta frase que faz parte de um novo rap do WS Tizil resume o orgulho de jovens que nasceram, se criaram e vivem no Bairro Xarquinho, na periferia de Guarapuava.

Com a família deixando o município de Palmital em busca da melhoria da qualidade de vida, Tizil disse que foi morar no Xarquinho, aos três anos de idade, numa casa localizada na Rua Ipê. Essa rua foi mencionada por alguns jovens como sendo a divisa entre as gangues  rivais “Dos Firmeza” e “Dos Bira”. (Leia aqui).

Foi justamente o conteúdo postado na Rede Sul de Notícias reportando a rivalidade entre jovens, o tráfico e o consumed e drogas, que provocou Tizil.

 “Sei que os piás são envolvidos com o tráfico, que se matam entre eles, como sempre soube que o Xarquinho é violento. Mas a pergunta principal que deve ser feita é o que leva a tudo isso?” Para o rapper, que trabalha com movimentos sociais desde a adolescência e que coordena o projeto Voz Ativa e a Casa do Hip Hop, a primeira do Paraná, em Guarapuava, a distância  geográfica do bairro com o centro da cidade e o distanciamento politico por parte da Prefeitura e da Câmara Municipal de Vereadores são as principais causas do problema social.

“A maioria dos 15 mil moradores do bairro é pobre, grande parte é vítima do êxodo rural. O meu pai vendeu o único pedaço de terra que possuía, comprou a casa no Xarquinho e, por falta, de qualificação professional, ficou sem emprego.”

Pais desempregados, crianças e jovens sem escolar são consequências que empurram parte da populace vulnerável ao crime. “As crianças, os jovens do Xarquinho nunca tiveram uma praça, uma área de lazer. Nenhum vereador vai lá perguntar quais são os problemas dos jovens. Não existe um projeto de lei que trate desse assunto. Estamos pedindo uma pista de skate há mais de 15 anos, mas os vereadores só se reúnem para dar nome de rua e menção honrosa. Não há nenhum projeto de urbanização do bairro que está esquecido. Só quem visita é a polícia”. Para Tizil, não adianta prender, se hoje as cadeias servem como “escritório do crime”. Ele defende a inclusão de políticas públicas que sejam efetivas. “O nosso projeto com a Prefeitura acabou em 2014, mas contonuamos trabalhando mesmo assim. Porém, é preciso muito mais. As causas da violência devem ser tratadas na raiz e não vista como um problema, como caso de polícia. E quem lucra com isso? Quem sai no prejuíso é o povo da periferia, as mães que enterram seus filhos, vítimas de uma guerra que não se sabe quando, nem como e porque começou e muito menos onde e quando vai parar”.

Jovens acuados

De acordo com Tizil do Rap, os adolescentes e jovens do Xarquinho estão acuados, com medo de serem mortos pela polícia. Recentemente, sete jovens foram presos numa Operação de combate às gangues e ao tráfico de drogas. De acordo com a Polícia Civil, se tratavam de membros “Dos Firmeza”. Entretanto, o rapper contesta a existência dessas duas facções. “A existência dessas duas gangues [Dos Firmeza e Dos Bira] é uma coisa do passado, embora desavenças existam até hoje. Mas é uma coisa entre eles e que não envolve o restante dos moradores.  A maioria é pai de família, que trabalha, que estuda, que quer uma vida digna, assim como os demais”.

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.