22/08/2023

Irresponsabilidade tem limite?

Estou com náusea, outros com ojeriza, mas todos, no mínimo, perplexos.   Existe pior  notícia  que o  possível fechamento da Unicentro ? Talvez, ‘hipoteticamente’,  o possível fechamento dos dois Hospitais da cidade que de tempos em tempos entram em crise.  Narcisicamente ou egoisticamente pode haver  ainda uma  outra notícia absurda , ou seja,  a possibilidade do fechamento de minha casa ou de sua casa.

Assim prossigo. O Governo do Paraná é vítima de seus próprios erros. Dois fantasmas rondaram o Palácio do Iguaçu nos últimos anos e últimas semanas, a saber: decisões não tomadas no tempo certo e decisões apressadas, equivocadas e inconsequentes no tempo errado.

Tenho dúvida se a imagem deste Governo será restaurada. Os danos são incalculáveis e, dia após dia, a sociedade se convence de que a situação está insustentável. Não há partido político que atenue a desconfiança das pessoas sobre a atual crise de representatividade e o judiciário paranaense,  por conta de algumas regalias absorvidas,  (leia-se auxílio moradia) está impotente diante do imbróglio e com seu silêncio, lava suas mãos.  Até esses dias, em período eleitoral, prevalecia a tese do “vamos no menos pior” e foi assim que Dilma e Beto Richa foram reconduzidos. Agora, o saldo líquido é bombástico: não há menos pior, são iguais e merecem indignação.  O Brasileiro e o Paranaense ao conservar o mesmo governo (uma patologia tupiniquim), exibe na face um verdadeiro sentimento de enganação jamais visto até então, experimentando um veneno que pode matar e  morrer. Triste choque de realidade.

Assim, vê-se que a era do imobilismo chegou ao fim.  Não há mais braços cruzados e esperança doméstica. Até o mais cético à ação grevista transformou-se num ativista coletivo incomum, engrossando o caldo do movimento.  Não tenho dúvida que o cheiro de junho de 2013 está no ar e, se acontecer novamente, promete ser diferente e mais eficiente. Há razões para isto, até porque a indignação transcendeu da corrupção para a economia; da economia para a representatividade política. O sentimento que prevalece no imaginário coletivo é o do desabafo: “Vão se todos!”.

Em especial no que tange à greve dos profissionais da educação pública do Paraná, quer-se ir às últimas consequências e este Governo parece não estar preparado para enfrentar esta cruzada. Sua salvação, o dinheiro do fundo superavitário do Paraná Previdência é o inferno para os servidores públicos.  O Paraná vive dias tensos e um fenômeno revolucionário está a caminho em uma perigosa área de risco.

Neste cenário, alguns incendiários querem beneficiar-se, mas a verdade é que o servidor público quer sobreviver com dignidade e quer construir alternativas racionais e viáveis que não seja apenas o ato de um atear fogo irresponsável. É como se dissessem: “não queremos o melhor  que está por vir, queremos apenas o razoável”. Sinceramente, não estou vendo saída, nem para nós, nem para eles.  Nosso sucesso ( a greve permanente e a resistência dura )  pode ser o insucesso do governo (não sei onde vai dar) e o sucesso do governo  ( aprovação do pacotaço ) pode ser nosso insucesso (sei onde pode dar e não é nada bom).

Estamos numa fase da greve que pode ser intitulada de ‘fase da encruzilhada e de uma movimentação diferente’ e nossa cidade (Guarapuava), tem protagonizado um espaço no mínimo interessante, pautando um novo momento da mobilização. Ao assumir publicamente que nossa Universidade  pode fechar senão houver um projeto financeiro alternativo ao que está posto, nossos dirigentes universitários trazem para o jogo uma corrente cada vez maior de cidadãos paranaenses solidários e aptos em apoiar o movimento em sua inteireza, encostando o governo na parede. 

Enquanto a greve alimentava-se da manutenção dos direitos trabalhistas dos Servidores Públicos e do medo do fundo da Previdência desaparecer irresponsavelmente, entre outros aspectos vitais, o cenário era muito ruim, mas não catastrófico.  Agora, o slogan “Salvem nossa Universidade Pública”  turbinou um movimento que começou graças à coragem e determinação de milhares de Professores da Escola Pública que com o estratégico  e eficiente suporte da APP em frente à ALEP, impediu o que parecia impossível impedir. A militância da APP foi fundamental e contagiou o processo. A proporção agora é outra, pois aqueles corajosos Professores ( que em Guarapuava  aprovaram a Greve  em Assembleia ) continuam firmes como nunca e novos protagonistas ( inclusive estudantes )  e categorias incorporaram o movimento com a assinatura da sociedade.   A verdade é que o atual Governo está sem força para impedir a avalanche e agora, ‘o pior pode estar por vir’.

Todavia, o que precisamos agora é de discernimento para ‘jogar a água suja da banheira  sem perder o  bebê’. É neste momento que temos que separar os paranaenses com p minúsculo dos Paranaenses com  P Maiúsculo. Sei que no momento em que estou sendo lido, multiplicam-se textos e comentários apocalípticos sobre este caos e o que pode acontecer. A comoção não é pequena.   Não poderia deixar de questionar: irresponsabilidade tem limites?  Aqui, com este Governo, parece não ter. Pode ser que na próxima semana, o susto do caos desapareça e as coisas se encaminhem para uma resolução, mas o simples fato desta suposição de verdade ter se firmado por alguns dias, merece de todos nós um “Vão se todos agora e depois !”.

Cristina Esteche

Jornalista

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