22/08/2023

Cristãos decapitados – Hora de discutir quem é esse Deus

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Os conflitos religiosos já foram motivo de incontáveis mortes durante toda a nossa história. Recentemente, o mundo todo se assombrou com a morte de 21 cristãos que foram decapitados por islamitas. E a guerra civil continua espalhando medo pela face da terra. Em defesa do seu Deus, radicais religiosos sentem-se no direito divino de torturar e tirar a vida de milhares de pessoas, alegando como justificativa o simples fato dos mesmos serem seus desiguais.

Nasci numa família católica apostólica romana. Conheço as histórias da inquisição e sinto muito pelas cenas também sangrentas desenhadas por mãos humanas da igreja desprovidas da verdadeira espitutualidade. Sou cristã com orgulho. Tenho em minha vida a forte presença de Jesus misericordiosamente iluminado, assim como o amor incondicional de Nossa Senhora me acolhe e protege diariamente com sua generosa maternidade. Jesus e Maria são os espelhos da supremacia de Deus em mim.

Mas devo confessar também que mantenho em minha casa algumas peças de Sidarta Gautama, presentes de amigos queridos que devem ter escolhido as imagens devido à minha evidente aproximação com o Yoga  – embora a prática não tenha nada a ver com religiosidade em si. Guardo meus Budas com muito carinho, respeitando as centenas de anos de seu nascimento antes de Cristo e toda a evolução espiritual que inspirou em milhões de pessoas em todo o mundo.

Reconheço e respeito todos os caminhos escolhidos por cada um para chegar a Deus, este Ser Superior, Universal, que pode ser chamado de diversos nomes e que, ainda assim, mesmo na mais poética das manifestações, poderá ser nominado com termos inadequados da descrição de uma energia absolutamente indescritível, que tão somente pode ser sentida e experimentada, inexplicavelmente.

Não acredito em um Deus sentado num trono distante no céu, muito menos residindo numa congregação inflexível, especialmente nas mais egóicas que disputam poder, ignoram e rejeitam tudo o que não lhes faz parte.

Confio plenamente que Ele está muito mais perto, dentro de nós, emanando interiormente o que trazemos de melhor, fazendo o nosso coração pulsar e respirando conosco por todos os nossos poros, presente inteira e conscientemente em cada momento em que conseguimos apreciar as belezas naturais, naqueles que nos entregamos aos milagres que não param de acontecer a cada instante e até quando não nos lembramos de Sua existência e nos sentimos sós. O acesso é ilimitado e muito simples, basta estarmos atentos ao que é essencial e perseverarmos na fé constante.

Mas somos tão frágeis! É muito difícil sozinhos percebermos e expandirmos a nossa própria divindade. Aliás, estamos aqui para compartilhar vivências. Então, é lógico que as religiões têm o seu papel fundamental de conexão dos seres em sua humanidade com o sagrado. Como a sua própria etimologia nos remete, as instituições existem para contribuir no exercício de “re-ligar” matéria e espírito e auxiliar no caminho até Deus.

Por outro lado, não podemos fechar os olhos para esses desvios de percurso, ocasionados pela violência que nem Jesus, nem Buda, nem Jeová, nem Alá, ou qualquer outra personificação de Deus, encarnada ou não, pregou ou deseja para o seu rebanho, num termo bem evangelista.

Em relação aos extremos de decapitar pessoas em série, se sujeitar a assumir o papel de homens e mulheres bombas em nome da salvação, ou mesmo na prática habitual de alimentar o preconceito religioso que já incorpora culturais inteiras e prejudica diversas relações sociais, só posso dizer que tenho certeza absoluta que Ele não está aprovando o que tem acontecido em “Seu” nome.

Mais amor, por favor! Amém!

Beijos.

Jo.

Cristina Esteche

Jornalista

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