Guarapuava – Vinte e quatro empresas e grupos líderes de alimentos e bebidas firmaram acordo impondo restrições à publicidade de seus produtos dirigida ao público infanto-juvenil. A partir de agora, os pais passarão a ser o público-alvo das campanhas e a decisão de compra ficará mais nas mãos dos adultos, apesar do conhecido poder de convencimento dos pequenos consumidores. As medidas estabelecidas vigirão em sua totalidade até o final de 2009.
A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) usou diversos estudos científicos para convencer os associados à entidade e à Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) da importância de criar restrições à publicidade de alimentos e bebidas para as crianças. Países como Estados Unidos, Canadá e parte da União Europeia (UE) já criaram regras para tirar o público infantil do foco das empresas e agências de publicidade. Além disso, dar destaque às características nutricionais do produto passa a ser fundamental.
Para a nutricionista Marcela Brecailo, docente do curso de Nutrição da Unicentro e da Faculdade Campo Real, é muito importante discutir pontos que contribuam, direta ou indiretamente, para a saúde das crianças. Essas restrições são um avanço para nossa sociedade, embora não sejam suficientes, pois muitas vezes falta informação aos pais, que decidem o que oferecer a seus filhos. Porém, diminuir o acesso das crianças a informações nem sempre confiáveis, e que as estimulam a desejar produtos não saudáveis, é um auxílio importante para a autonomia dos pais na hora de alimentar seus filhos, sem a pressão da mídia ou da própria criança, aponta.
Segundo ela, as propagandas de alimentos direcionadas a essa faixa etária certamente influenciam escolhas, especialmente aqueles anúncios que carregam uma mensagem emocional, de que a criança será aceita se consumir determinado produto. Ela se sentirá inferiorizada se não consumir o alimento que aparece no comercial, e que todos os coleguinhas possuem. Portanto, não é apenas um problema nutricional para quem consome o produto em excesso, mas também uma questão psicológica a ser pensada, acredita.
A nutricionista observa que, quando o assunto em pauta é a questão nutricional, sabe-se que as mudanças ocorridas na alimentação da população brasileira se traduzem hoje em grande prevalência de obesidade, diabetes, pressão alta, entre outras doenças. A população infantil também vem sofrendo com esta mudança, e já apresenta estas mesmas doenças, ou mesmo terá mais chances de adquiri-las no futuro, completa.
Educação alimentar
Marcela afirma que não é difícil educar uma criança com uma alimentação saudável, mas ressalta que isto deve ser uma escolha da família toda. Não adianta comer batata frita na frente da criança e obrigá-la a comer salada. Os pratos saudáveis devem fazer parte da vida da família, e os alimentos não saudáveis não devem ser proibidos, mas também não devem ser supervalorizados. Se ninguém tem o hábito de tomar refrigerante em casa, a criança pode querer experimentar, ou beber de vez em quando, mas isto também não será um hábito para ela, ensina.
De acordo com a nutricionista, os produtos industrializados são oferecidos para a criança inicialmente se isto é comum na família. Muitas coisas são introduzidas na alimentação da criança sem mesmo que ela peça, pois é um hábito dos pais. Mais tarde, podem ser utilizados pela comodidade, já que é mais fácil abrir um pacote de salgadinho do que lavar e picar uma fruta.
Mas este não é o principal motivo. Geralmente, a falta de informação sobre os perigos da má alimentação faz com que os pais sejam mais tolerantes em suas escolhas. Há ainda o fator emocional. Aquele pai que quer compensar as horas que fica longe da criança com sanduíche, batata frita, refrigerante e chocolate, explica.
Antes tarde do que nunca:
dicas para mudança de hábito
Quando a criança já formou hábitos alimentares inadequados, é necessário que toda a visão sobre alimentação para a família seja mudada. A introdução de alimentos saudáveis deve ser gradual e deve acontecer de forma natural, sem obrigar a criança a comer o que não quer. Deve-se lançar mão de preparações diferenciadas para despertar o interesse. Todos devem comer esse mesmo alimento, para que a criança entenda que é um alimento de escolha de todos, e não feito especialmente para ela, por algum motivo.
Nessa mudança, os alimentos antes consumidos pela criança não devem ser proibidos, mas deve-se diminuir a oferta, oferecendo outra opção. No início, é mais difícil, e essa troca não será aceita pela criança em todos os momentos, mas isto não deve gerar brigas ou tensão na família. Aos poucos, o hábito será modificado.
Não só para as crianças, mas também para os adultos, o grande problema brasileiro é a falta de frutas e verduras frescas no dia a dia alimentar. Os vegetais devem ser consumidos nas duas grandes refeições e as frutas no café da manhã e como lanches da manhã e da tarde. A dobradinha arroz e feijão também tem perdido espaço na mesa do brasileiro, e é importante que retomemos esse consumo, pois é um alimento rico e completo, bastante importante no prato das crianças. Nos lanches também é importante lembrar da oferta de leite e derivados, importantes para o crescimento e formação dos ossos, explica a nutricionista.
Para aumentar o interesse para esses produtos, uma das dicas para os pais é fazer pratos coloridos, com boa variedade de ingredientes. Outra idéia é iniciar a introdução com pratos à base desses alimentos, como torta de verduras, bolo de laranja ou cenoura sem recheio, pão de beterraba ou brócolis.
Para a criança mais nova, ou que já passou pela fase anterior, podem ser realizar outras estratégias. Fazer uma horta em casa, em que a criança ajude no cultivo, também estimula o interesse, pois ela vai ingerir o que ela mesma plantou, cuidou e colheu. Pedir auxílio na cozinha também é uma opção. Quando a criança prepara o prato de salada ou ajuda a arrumar as frutas em uma travessa, ela terá maior estímulo para provar o prato.