22/08/2023

O fracasso do Homem Público impulsiona o agir

Em Brasília, a Presidente se justifica e o convencimento não atinge o pretendido. Aqui no Paraná, o Governador além de justificar-se e explicar-se, recua e encolhe-se. Sem querer, passam a imagem de serem apenas ‘operadores da política’ e com desempenho pífio para não falar outra coisa. É verdade que ‘líderes políticos’ estão em número cada vez menor e cada vez mais raros. São poucos aqueles e aquelas que têm capacidade de mudar o curso dos eventos econômicos, culturais, políticos ou sociais.

O lamentável é que esta falta de líderes coincide com o momento que mais precisamos deles. Olhamos ao entorno e não os vemos. A qualidade política talvez seja nosso grande déficit.

Sabe-se que a crise internacional é grave e pesada e não há populismo que dê conta desta impotência política. Isto sempre foi comum e digerido pela opinião pública que agora decidiu não mais tolerar, afirmando com isto que ‘nenhum tipo de impotência política e econômica devem permanecer impunes’.

O fracasso de um gestor público é o fracasso de todos nós.  Com a fragilidade dos Partidos Políticos e a crise institucional cada vez mais visível, assistimos o nascimento de um tribunal popular de milhões de cidadãos que ‘com razão’ não admitem mais imbecilidades.

Os descontentes não são mais apenas cidadãos e cidadãs com alta dosagem de ideologia, intitulados sujeitos históricos, que sempre resistiram aos desmandos e tiranias. Agora, um grupo enorme de ‘precários’, contextualizados em cidadãos de todas classes, extratos, posições e ideologias, querem agir. Quem são eles ?  Para Z. Bauman são aqueles que temem que seus empregos não sobrevivam; são aqueles portadores de diplomas universitários que procuram empregos adequados às suas competências; são empregados permanentes que perdem seu patrimônio dia a pós dia e incontáveis que desconfiam de sua posição nesta sociedade.  Este grupo de precários que não agiam, agora ensaiam agir individualmente, em grupos ou todos juntos.

Assim, a precariedade é um dado permanente nos dia de hoje. Agora, com maior ênfase não há governante que não tema as ruas, sobretudo aquelas pessoas que tomam as ruas ‘sem comando, nem convite’. As pessoas que agem desta forma perderam completamente a fé em tudo o que vem do alto, querendo participar porque sentem necessidade. Trata-se da verdadeira mobilização.

Diferente de outro momento, a mobilização que se aproxima parece ter comando e convite e o ar não é tão livre como se imagina. Mesmo assim, tem sua importância e validade.

Razões para estarem indignados não faltam. Há uma lista de incertezas que, por incompetência e ineficiência, nossos governantes construíram.   O que se desenha é algo no mínimo sombrio, pois não temos ideia do que vai acontecer e quase nenhum modo de impedir que isto aconteça.

A verdade é que os parlamentos e os gabinetes governamentais não inspiram confiança ou formas de solucionar o problema que se agiganta sobre nós e pouquíssimas pessoas têm esperança que a resolução venha do alto, naturalmente.

Há uma expressão dos mais antigos que faço questão de compartilhar neste momento de crise de autoridade de nossos governantes e de explícita ingovernabilidade: “machados podem ser usados para cortar lenha ou decepar cabeças. A escolha não é dos machados, mas de quem os segura”. 

Cristina Esteche

Jornalista

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