Se hoje não dispomos de práticas, experiências, alternativas e ferramentas tupiniquins para avançar no aperfeiçoamento de nossa jovem democracia, temos que, ao menos, nos espelhar em práticas, experiências e alternativas em países que conseguiram construir novos coletivos com a composição de diferentes.
É o caso de coletivos em ascensão na Espanha como o “A hora Madrid” e o ‘Barcelona em comum” de experiências locais e o famoso “Podemos” de caráter nacional. Os espanhóis estão provando para o mundo que arriscar no que parecia impossível ainda pode ser possível. A política de resistência e grande articulação em rede tem conseguido reunir indignados de toda sorte para um enfrentamento com as grandes forças políticas tradicionais vigentes. Trata-se de um trabalho vivo que com positividade aliado com conhecimento e organização estão convencendo cada vez pessoas para o que eles chamam de ‘a grande causa’ que não é outra coisa senão um contraponto à crise econômica, à corrupção e à falta de perspectiva.
Nós, Brasileiros, precisamos amadurecer mais para, tal quais os espanhóis, promover um enfrentamento viável/possível e que deixemos de lado pequenas cisões, tabus, preconceitos e símbolos que nos aprisionam negativamente para que um vento mais puro e com maior frescor possa ser ventilado na esfera pública.
Na verdade, o que conta é que estamos no início de alguma coisa diferente e irreversível. Só não podemos demorar muito, sob pena de não sobrevivermos até lá. Isto já pode ser percebido na expressão de muitos brasileiros que dia após dia adotam a política da liberdade da linguagem, o dar a liberdade de falar, o falar francamente com objetividade e à coragem da verdade. Apesar disto, continuamos sendo gradativamente atropelados pelo estruturalismo do poder oficial que ainda consegue se sobrepor à vontade de uma maioria mais ou menos organizada. A emblemática votação da reforma política demonstrou isto.
Lá na Espanha, as paixões e os fanatismos de alguns grupos cederam lugar para uma movimentação singular que mais converge que propriamente diverge e que em seu horizonte buscam o que é útil em pleitos eleitorais específicos. Trazem uma nova fórmula e um novo modo de agir que não os rotula com este ou aquele ‘ismo’, com este ou aquele ‘partido’. É bem verdade que ainda não venceram em todas as instâncias, mas já conseguem marcar uma importante posição em cidades consideradas estratégicas como Barcelona, Madrid, Cádiz, Zaragoza e La Corunã.
Tais movimentos estão focados em um feito inédito: transpor a fase de lutas para buscar assentos nas instâncias do poder institucional. Todavia, está claro que não se trata apenas e tão somente de chegar ao poder com a mesma vontade de poder. Se for para ser assim, melhor não chegar para não decepcionar. Aí está o grande aprendizado que podemos ter com tais experiências, ou seja, é preciso concorrer/disputar visando alterar a lógica do poder, gradativamente. Não há dúvida que o Estado do Paraná pode ser um grande laboratório.