22/08/2023

Bombásticas são as palavras

Não há melhor coisa a fazer do que ceder ao devaneio. E foi com esse desejo que comecei a semana. Sem vontade de escrever fatos corriqueiros, mas com ávida por uma grande reportagem, por algo que satisfaça as pessoas de alguma maneira e, sobretudo, a essa minha vontade incontrolável que pede algo “bombástico”, como costumo dizer na redação da Rede Sul de Notícias, diariamente.

Estou cansada desse marasmo, dessa política cheia de interesses contidos e incontidos. Estou exausta de buscar o extraordinário nas coisas comuns, sem encontrá-lo. Estou “cheia” de promessas não cumpridas, de “enrolação” , de conversas que não levam a nada, de avaliações equivocadas, de pessoas que vivem num “mundo de fantasia”  sem querer olhar à sua volta, enxergar o que realmente está acontecendo. Estou cansada de pessoas que se sentam num pedestal e se acham no direito de olhar para baixo e mexer as mãos, alimentando o ego como se fosse um teatro de marionetes, agindo como se o tempo não passasse, como o ciclo não acabasse, como se um dia não retornassem à condição de caça em vez de caçador.

Se alguém está lendo e pensando que algo aconteceu comigo neste começo de semana ou num passado muito perto, se enganou. Às vezes as palavras soltas nos vem à mente e refletem um desejo escondido, um fato que presenciamos, uma história que ouvimos – e são tantas. Conforme o enredo, só fico ouvindo, calada, fazendo uma reflexão “express” e sentindo pena do vazio enorme que habita nesse ser, que não é, que simplemente existe. E são essas palavras soltas, livres, que me aposso por alguns instantes para extravazar essas situações, para perceber ainda mais como o ser humano é pequeno, embora dotado de grandeza que camufla por entre as garras de alguma ilusão de poder. E me refiro a qualquer poder do homem sobre o próprio homem. Afinal, não somos a única espécie que mata o igual?

Mata a liberdade, quando julga as formas de amar, mata o próximo pela sua crença, pela sua cor, pela condição social. Mata com um tiro, com uma paulada, com golpes de faca. Mata no trânsito, mata pela posse, mata com palavras, mas ainda não mata a esperança. E é por isso que continuo caçando as palavras soltas, correndo atrás como se elas, as palavras, brincassem comigo, de forma bombástica, nas matérias que escrevo. 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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