22/08/2023

Só vence quem participa

A mínima perspectiva de um resultado eleitoral “equivocado” para os interesses do poder instituído  ou o “risco de perder” provoca um pânico indescritível. É incrível. Assim que essa possibilidade aparece no horizonte, tenta-se bloquear, desconstruir e habilmente cooptar os novos protagonistas ou usar a maquinaria da comunicação para alterar o teor de um significado que não agrada.

Começo a enxergar pessoas que antes ficavam em estado marginal e que não somente sabiam que nunca chegariam ao poder, como nem desejavam. Hoje o quadro parece ser outro.  Agora, em outra atmosfera, tocados por iniciativas que deram certo por aí, pela fragilidade do atual staff político e por uma aceitação fenomenal da opinião pública, um grupo expressivo de cidadãos desejam um horizonte mais concreto. Isto é um bom sinal.  É saudável visualizar esta nova vontade de jogar, de participar das decisões municipais, estaduais e federais sob uma nova lógica.

Há uma célebre expressão de Napoleão Bonaparte que serve como incentivo àqueles que ainda acreditam em dias melhores em nosso País e boas práticas na vida pública: “só vence, quem ataca”. Dito de outra forma, ‘só vence quem participa’ e esta objetividade da participação política nas eleições que se apresentam parece ser  hoje algo viável para um número maior de pessoas. Portanto, é preciso se por em movimento.

Diferente de outros tempos e de outras utopias, cada dia fica mais perceptível a tese de que mudar o mundo sem chegar ao poder é uma falácia. Infelizmente aqui e ali ainda existe a contaminação de um discurso perigosíssimo que vem de forças tradicionais em nome do imobilismo ( o melhor é cada um cuidar da sua vida ), do desestímulo e da defesa unilateral do prazer da vida privada e só da vida privada.

O motor que pode impulsionar este apetite em participar de uma vida pública diferente está mais para um avançar essencial que busca modificar a realidade  do que outra coisa.  

Evidente que não se pode fazer isto de qualquer jeito. Como bem afirmou o dedicado leitor de Habermas, Renato Santos de Souza: “O tolo ignora o todo ou supõe o todo a partir da sua própria parte. O cínico conhece o todo, mas desconsidera-o por interesse ou conveniência; o ingênuo sonha ser possível desprezar o todo, ou mudá-lo apenas a partir das partes, por ato de pura vontade.”.

É preciso com mais conhecimento e com mais objetividade entender os limites da própria política e das ações dos governos vigentes para uma intervenção que pode configurar em uma nova capacidade de governar e de considerar o público.

Precisamos considerar a crença nas possibilidades da razão e não ficar fazendo círculos e mais círculos com trajes de tolos, cínicos e ingênuos, alguns mais à direita e outras mais à esquerda. Só vence quem participa, mas esta participação não pode e não deve ser de qualquer jeito.

 

Cristina Esteche

Jornalista

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