Taís Nichelle
Infelizmente, frases como “é falta de ter o que fazer” e “falta Deus no coração” são ditas com frequência pela sociedade em resposta a casos de suicídio. Isso mostra não só a falta de compaixão, mas também uma profunda desinformação a respeito do assunto. Porém, o julgamento é muito mais que um simples feed black popular. De acordo com o médico psiquiatra José Cleber Ferreira, essa é uma das causas que levam as pessoas a tirarem a própria vida. “Por falta de informação, as pessoas julgam os suicidas, o que é extremamente cruel. Isso agrava o quadro de depressão, porque o indivíduo se sente incompreendido e inferiorizado, por ser incapaz de lidar com a própria dor”, diz o especialista.
“É importante deixar claro que ninguém tenta se suicidar para chamar atenção, como muitos julgam ser. Um suicida é uma pessoa doente. O ato é uma consequência de um problema psiquiátrico prévio. Normalmente, um quadro de depressão, abuso, dependência química ou ainda, uma desestrutura familiar. Uma pessoa se suicida porque não vê perspectiva para a própria vida, porque para ela, a única solução para seu conflito é a morte”, declara o especialista.
Segundo o psicólogo Giovani Caetano Jaskulski, a depressão é uma doença grave. "Há uma série de evidências que mostram alterações químicas no cérebro do indivíduo deprimido, principalmente com relação aos neurotransmissores. Os níveis de serotonina, noradrenalina e dopamina são prejudicados. Assim sendo, a pessoa é dominada por uma angústia e tristeza profunda”, esclarece ele.
Ainda de acordo com Jaskulski, vivemos em uma sociedade onde o “ter” é mais valorizado que o “ser”, o que aumenta as chances de frustração. “Esse julgamento social é extremamente danoso, principalmente para os jovens, que podem se sentir deslocados e incapazes, o que pode levar a casos de dependência química, ou até mesmo, suicídio”.