22/08/2023
Cotidiano

Secretário Municipal de Agricultura lidera invasão em Boa Ventura de São Roque

imagem-9446

Na mesma semana em que integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) invadiram uma fazenda do grupo Cutrale, em São Paulo, destruindo pés de laranja, tratores e caminhões, outra invasão no estado do Paraná, chamou a atenção. Não pela destruição, mas principalmente pelos envolvidos.
Na liderança, o secretário municipal de Agricultura de Boa Ventura de São Roque, município localizado na região central do Paraná, Antônio Cardoso. Junto com integrantes do MST, da Via Campesina e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), ele invadiu há 13 dias, a Fazenda Buriti, que fica na localidade de Linha Gaúcha, próxima aos assentamentos Coprosserp e Astroagri.
Utilizando inclusive veículos da Prefeitura Municipal, cerca de 200 pessoas – mais de 100 mulheres e crianças – chegaram à propriedade rural de Wilmar Schneider na manhã do dia 02 de outubro, soltando foguetes, com foices e facões, gritando palavras de ordem ligadas ao movimento e hasteando bandeiras do MST na entrada da fazenda.
Assustado com as ameaças, o tratorista José Valderi Santana, que estava no local trabalhando, foi orientado pelo proprietário rural a abrir covas para que os integrantes do MST pudessem plantar árvores nativas no entorno de uma nascente. Em seguida, o filho do proprietário, engenheiro agrônomo Rodrigo Schneider, chegou à propriedade. “Fiquei assustado com o que vi. Eles alegaram que foram plantar árvores nativas porque as nascentes estavam envenenadas e também disseram que nós não estávamos cumprindo a legislação ambiental”, conta.
Segundo ele, 15 dias antes, seu pai recebeu uma notificação do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) solicitando a construção de cercas no entorno das nascentes e o plantio de árvores nativas, conforme prevê a legislação ambiental. “No mesmo dia, fui ao Viveiro Florestal de Pitanga, mas devido às chuvas do final de setembro, que alagaram o local, não consegui adquirir as mudas. Fui informado que elas estariam prontas no dia 10 de outubro. Desta forma, comunicamos ao chefe regional do IAP e nos comprometemos a realizar o plantio. Só que a invasão ocorreu dias depois, comandada pelo secretário municipal de Agricultura”, informa.
Schneider diz que está realizando o plantio de árvores nativas na propriedade e cercando as nascentes, conforme determinação do IAP, mas os integrantes do MST ameaçaram retornar. “Eles disseram que voltariam entre 30 e 60 dias, caso não fosse feita a cerca ao redor das nascentes para que o gado não adentre a área no inverno e que ficariam pelo menos três anos na propriedade para fazer o plantio de árvores nativas. O grupo também falou que a nossa fazenda será um exemplo para eles, que eles vão vistoriá-la e avisar ao INCRA sobre as irregularidades ambientais, podendo pedir a desapropriação” conta.
De acordo com Rodrigo Schneider, pelo menos oito líderes de nove regiões estavam presentes na invasão, além do secretário municipal de Agricultura e de uma bióloga também funcionária da prefeitura. “Sabemos que as mudas plantadas pelos sem terra foram fornecidas pelo Viveiro Municipal de Boa Ventura de São Roque”, revela.
Embora a invasão tenha sido pacífica – sem depredações – o filho do proprietário ainda está assustado. “Eles plantaram quatro mil mudas, mas foi uma invasão. Depois ainda fizeram uma reunião nas dependências da fazenda, onde o secretário municipal de Agricultura, Antonio Cardoso, falou sobre o que eles consideram um projeto, dizendo que foi a primeira ação de muitas outras pelo Brasil. Em seguida, chegaram a me convidar para um churrasco e tarde de lazer no assentamento, descrevendo toda a ação em uma ata, que fui obrigado a assinar”, conta.
Para Rodrigo Schneider, a invasão trouxe insegurança. “Fui humilhado, repreendido, tive que ouvir promessas negativas. Corri para tirar o gado porque houve boato que matariam um boi para o churrasco. Meu tratorista foi obrigado a segurar uma criança de colo em cima do trator – filho de um dos integrantes do MST, enquanto realizava o trabalho, um verdadeiro ato de terrorismo. Foi horrível, fiquei arrasado”, desabafa.
Logo após a invasão, o proprietário rural avisou à polícia, que esteve no local. Foi feito um Boletim de Ocorrência, mas os policiares não permaneceram na propriedade, alegando que a movimentação era pacífica.
À tarde, a Força Verde também esteve no local para verificar sobre o plantio das mudas. “Eles disseram que estava tudo certo, ou seja, o plantio feito pelos integrantes do MST estava correto. Achei estranho”, avalia Rodrigo Schneider.
Para chegar à propriedade, Wilmar e Rodrigo precisam passar por dentro do assentamento. “Eles (os integrantes do MST) tem dificultado este acesso, colocando arames na passagem”, contam.
Para Wilmar Schneider, torna-se urgente a tomada de providências para que sejam evitadas nossas invasões com veículos e apoio da Prefeitura. “Nós estamos regularizando nossa situação, mas o engraçado é que as próprias áreas dos assentamentos estão irregulares quanto à legislação ambiental e ninguém fala nada”, compara.
Na última semana, o proprietário da fazenda reuniu-se com o comandante do 16º BPM, Major Daniel dos Santos, solicitando apoio e orientação quanto à invasão e ameaças. O proprietário rural também ingressou com ação de interdito proibitório. Segundo informações do advogado da família, a liminar de expedição do mandado proibitório foi deferida pelo Juiz de Direito Flávio Resende no dia 14 de outubro. O Ministério Público vai apurar o ato de improbidade administrativa referente ao uso de veículos do município de Boa Ventura de São Roque.
Foto: Wilmar e Rodrigo Schneider
Com informações da Assessoria de Imprensa Sindicato Rural de Guarapuava

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.