John Gray, ensaísta inglês que prima pela sensatez de seus escritos políticos disparou na última semana uma frase sobre nosso contexto político com alta dosagem de verdade. Escreveu: “é possível viver sem esperar que o mundo necessariamente melhore. Tudo bem. Nesse momento, no Brasil, estamos aprendendo a viver com a certeza de que o mundo vai necessariamente piorar.”
Ora, o número de indivíduos endividados, famílias endividadas, povos endividados, Estados endividados é uma constatação muito plausível. E, em uma rápida analogia aos fundamentos políticos de Foucault, pode-se dizer que um mundo endividado não pode deixar de ser um mundo capturado.
Neste momento, infelizmente, o número de pessoas capturadas (cooptadas) é muito grande. Algumas tentativas de resistência aqui e ali, alguns movimentos que ensaiam uma autonomia e uma ruptura, mas grosso modo, eleitoralmente falando, a grande maioria caminha para a repetição do que ocorreu nas últimas eleições. Pouco provável que se veja uma democracia com um novo uso.
Evidente que reconheço aqui o óbvio, ou seja, é muito difícil desafiar as leis do sistema político. Não é impossível, mas dado às circunstâncias econômicas e a falta de novas alternativas viáveis e competitivas, caminha-se para a naturalização da mesmice.
Às vezes me vejo defensor de saídas românticas e fico viajando. Estes momentos estão diminuindo e cada vez fica mais claro que infelizmente as brechas estão desaparecendo. Quando olho para a oposição e suas ações me vem a máxima de que se alimentam de objetivos meramente eleitorais, onde fala-se uma coisa e faz-se outra. E daí ? O lamentável é que esta batata quente nas mãos de milhões de eleitores tende a resultar em “a reprodução da reprodução”.
Para piorar não tenho visto unidade suficiente no sentido de tirar o Brasil do buraco em que está.
Não se vê uma força suprapartidária buscando uma saída, apontando para o futuro.
A frase do historiador Evaldo Cabral de Mello expressa bem esta indefinição: “hoje temos metade corrupção, metade incompetência”.
Precisamos ter foco e não rodar em círculo, demorando em escolher e quando escolher, escolher errado. Não custa lembrar que enquanto os asiáticos construíram fábricas, a opção em nosso país foi pela priorização de shoppings centers.
Lendo a entrevista de Maurício Hyckzy neste jornal na última semana, lembrei-me de que falar em longo prazo no Brasil de hoje é quase heresia. Como sinto a necessidade de uma forma de governar diferente.