22/08/2023

Precisamos ter foco e não rodar em círculo

John Gray, ensaísta inglês que prima pela sensatez de seus escritos políticos disparou na última semana uma frase sobre nosso contexto político com alta dosagem de verdade. Escreveu: “é possível viver sem esperar que o mundo necessariamente melhore. Tudo bem. Nesse momento, no Brasil, estamos aprendendo a viver com a certeza de que o mundo vai necessariamente piorar.”

Ora, o número de indivíduos endividados, famílias endividadas, povos endividados, Estados endividados é uma constatação muito plausível. E, em uma rápida analogia aos fundamentos políticos de Foucault, pode-se dizer que um mundo endividado não pode deixar de ser um mundo capturado.

Neste momento, infelizmente, o número de pessoas capturadas (cooptadas) é muito grande. Algumas tentativas de resistência aqui e ali, alguns movimentos que ensaiam uma autonomia e uma ruptura, mas grosso modo, eleitoralmente falando, a grande maioria caminha para a repetição do que ocorreu nas últimas eleições. Pouco provável que se veja uma democracia com um novo uso.

Evidente que reconheço aqui o óbvio, ou seja, é muito difícil desafiar as leis do sistema político. Não é impossível, mas dado às circunstâncias econômicas e a falta de novas alternativas viáveis e competitivas, caminha-se para a naturalização da mesmice.

Às vezes me vejo defensor de saídas românticas e fico viajando. Estes momentos estão diminuindo e cada vez fica mais claro que infelizmente as brechas estão desaparecendo. Quando olho para a oposição e suas ações me vem a máxima de que  se alimentam de objetivos meramente eleitorais, onde fala-se uma coisa e faz-se outra.  E daí ?  O lamentável é que esta batata quente nas mãos de milhões de eleitores tende a resultar em “a reprodução da reprodução”.

Para piorar  não tenho visto unidade suficiente no sentido de tirar o Brasil do buraco em que está.

Não se vê uma força suprapartidária buscando uma saída, apontando para o futuro.

A frase do historiador Evaldo Cabral de Mello expressa bem esta indefinição: “hoje temos metade corrupção, metade incompetência”.

Precisamos ter foco e não rodar em círculo, demorando em escolher e quando escolher, escolher errado. Não custa lembrar que enquanto os asiáticos construíram fábricas, a opção em nosso país foi pela  priorização de shoppings centers.

Lendo a entrevista de Maurício Hyckzy neste jornal na última semana, lembrei-me de que falar em longo prazo no Brasil de hoje é quase heresia. Como sinto a necessidade de uma forma de governar diferente. 

Cristina Esteche

Jornalista

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