22/08/2023

O que separa a corrupção ‘deles’ e a ‘nossa’?

O que separa a corrupção ‘deles’ e a ‘nossa’?  

Não são poucos os pensadores que assumem o posicionamento que o antagonismo e o conflito são constitutivos da política.  De fato, o envolvimento na política, qualquer que seja, envolve disputa.    

Neste cenário, ainda existem cidadãos bem intencionados que querem através da liberdade política proporcionar igualdade social para muitos.  Tarefa dificílima e muito desgastante, pois precisam conviver com disputas desleais e nem sempre justas.   Por outro lado, uma legião de profissionais da política, apropriam-se dela sem jamais considerar a liberdade política e igualdade social para quem quer que seja, mas apenas a sua própria liberdade e a sua própria igualdade.  

Sabe-se que desde os tempos mais antigos, a política sempre foi um excelente instrumento para melhorar nossas vidas.   Dito de outra forma, a política pode nos trazer uma forma de vida melhor que esta que está aí ou ainda a possibilidade de criar uma vida diferente em um ambiente melhor.   

Infelizmente, com o passar do tempo, a magia foi se perdendo e a discussão política saiu do campo racional e adentrou-se no emocional, coroando paixões, fanatismos e muita irracionalidade.  O desvirtuamento da boa política continua fazendo vítimas.   Neste momento tenso, o que mais se vê são escritos precipitados e radicais que estão mais próximos de uma explosão qualquer do que propriamente uma solução para todos. Catequistas e catequizados políticos (irresponsáveis) são instrumentalizados para manter um momento suicida que está colocando o país em um processo sem volta.  Felizmente tais análises são falíveis, pois neste quesito ninguém pode estar absolutamente certo de coisa alguma.   O caso é complexo e exige uma serenidade acima do bem e do mal, pois estamos em um ambiente que mistura incompetência governamental, sistema político falido e corrupção endêmica (de quase todos).  Foi Vladimir Safatle que nos brindou com a famosa máxima: “o atual estágio de corrupção em nosso país só terminará quando o último corrupto petista for enforcado nas tripas do último corrupto tucano”. Quis dizer com isto que enquanto prevalecer este maniqueísmo que nós somos melhores que eles, jamais atacaremos o vírus de nossa corrupção do dia-dia.  A política deve estar acima destas questiúnculas menores e não um vetor de confronto entre esquerda/direita, progressista/conservador.  Não é isto que está em jogo, mas sim que a política deveria voltar a ser política. Ser cidadão hoje, muito mais que ser esquerda ou direita; crítico ou alienado; é recusar uma forma de vida suspeita, fundamentada na esperteza e na ausência de espírito público. Sem considerar isto, de nada adianta pedir a renúncia ou o afastamento deste ou desta. Como escreveu Agamben e que avalizo plenamente é: “o erro da esquerda italiana é que eles gostariam de ter a vida que o velho corrupto Berlusconi levava” e, interpretando Vladimir Safatle, o erro de parte da esquerda que ocupou o poder no Brasil é ter levado uma vida igual ou pior daqueles que tanto se opuseram e criticaram. Como seria bom se tivéssemos homens e mulheres da esfera pública, seja de esquerda ou de direita, ou ainda do pântano ou de qualquer outra ideologia, que pudessem simplesmente respeitar aquilo que é público.  Vladimir Safatle conclui que o notável economista Celso Furtado, enquanto Presidente da SUDENE convidou o Sociólogo Francisco Oliveira para um Congresso no Rio. Depois do evento, hospedaram-se em um Hotel razoável. Quando chegou ao quarto, ligou para Chico Oliveira e disse: “acabo de entrar no quarto e vi que há duas camas aqui. Você poderia vir para cá e assim devolvemos a diária do segundo quarto”.

Lembrando sobre Celso Furtado e o comentário de Vladimir, é possível afirmar que a população esperava do PT no poder uma prática que considerasse devolver a segunda diária do hotel. Apenas isto.

 

Cristina Esteche

Jornalista

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