O dia consagrado aos mortos, 2 de novembro, chama a uma reflexão sobre o sentido do binômio tão antagônico que envolve a vida e a morte.
A questão desse rompimento vital encontra resposta na cultura, cujos rituais sofrem mudanças de acordo com os processos econômico-sociais vividos pelas sociedades.
A passagem desta vida para um outro plano, porém, encontra um denominador comum entre todas as crenças. As pessoas vivem para aprenderem a ser melhores e com isso conquistar a elevação espiritual, cada um conforme o que o seu Deus prega.
Para o professor Dartagnan Zanella, a filosofia dá uma explicação para a morte, e é um dos temas fundamentais para se compreender o sentido da vida. Todos os homens que dedicaram a sua vida à filosofia, à procura sincera e abnegada pela sabedoria, em grossos traços, nos ensinam que a morte é o atestado de conclusão da obra humana que será apresentada diante da Eternidade. Ou seja: existir é simplesmente um preparar-se para a vida, e a morte apenas a consumação dos preparativos feitos durante a existência para esse renascimento espiritual.
Na filosofia oriental que tem em Guarapuava a Igreja Messiânica e a prática do Johrei (energia pelas mãos) , a morte é o nascimento de uma nova vida. O espírito adormeceu no mundo material e acordou no plano espiritual, nascendo para um novo ciclo de aprimoramento, diz Heberton Paulino Moura Assunção, responsável pelo Johrei Center de Guarapuava.
O candomblé, religião de origem africana, segundo Orlando Silva, coordenador do Kundun Balê, entende que a morte é uma elevação espiritual e que a vida nos ensina a fazer a lição de casa para essa elevação. Estamos aqui para aprendermos a ser bons, a partilhar, a amar o próximo. Por isso, se faz festa (axexê) quando uma pessoa cumpre o seu ciclo aqui na terra, diz.
Na doutrina espírita, Allan Kardec, no livro O Céu e o Inferno, trata exaustivamente desse tema. Diz-nos que o temor da morte decorre da noção insuficiente da vida futura, embora denote também a necessidade de viver e o receio da destruição total. Segundo o seu ponto de vista, o espírita não teme a morte, porque a vida deixa de ser uma hipótese para ser realidade. Ou seja, continuamos individualizados e sujeitos ao progresso, mesmo na ausência da vestimenta física.
Nascer, morrer, renascer ainda, progredir sempre, tal é a lei. A citação do codificador da D.E nos esclarece que a morte é uma transição da nossa vida física para a espiritual, não morremos nunca. Somos espíritos imortais a caminho do progresso, as separações que hoje vivemos são transitórias, pois estamos sempre ligados a quem amamos pelos laços eternos do Amor. E, como viajantes logo nos reencontraremos na nossa verdadeira pátria, que é o nosso lar espiritual, afirma Berenice Dobgenski, da Sociedade Espírita Joaquim Nabuco, em Guarapuava.
De acordo com o padre Carlos Egler, para os cristãos católicos a morte se revela em função de Cristo. Pomos em Cristo a nossa única esperança. Nesse dia (morte) se inaugura a consumação do novo nascimento, que começa já no batismo. Não é um fim, mas o começo para a vida eterna, quando vamos contemplar a face de Deus, explica o sacerdote.
FINADOS
A preparação para cultuar os familiares mortos começa cedo. Limpeza, reformas nos túmulos, velas, flores. Tudo é feito pensando no Dia de Finados, 2 de novembro. A visitação aos cinco cemitérios começa nas primeiras horas desse dia. Há missas e cultos individuais.
Queremos que tudo fique lindo para chorarmos a saudade de nossos finados, diz a dona de casa Maria Madalena Correa, que mora no Bairro Santa Cruz. Ela é católica e acredita que existe uma vida no céu para aqueles que foram bons.
Finados é para os católicos um dia de amor, de celebração da vida eterna dos falecidos e de saber que o outro não morrerá nunca em nossas vidas, diz o padre Carlos Egler.
O sacerdote lembra que o ser humano tem três perguntas constantes: quem sou, de onde vim e para onde vou? A resposta está em Deus e se perdermos essa essência corremos o risco de perder o sentido da vida, adverte.
Para os messiânicos a preparação começa 30 dias antes de Finados. Nos preparamos para receber o espírito dos nossos antepassados intensificando a prática de ações altruístas, diz Heberton Assunção.
Se o dia consagrado aos mortos no Japão (onde nasceu a Igreja Messiânica) é comemorado em julho, em respeito à cultura ocidental os messiânicos incorporaram o Dia de Finados. Nesse dia fazemos um culto especial para nossos antepassados. Dias antes preenchemos um formulário com o nome de todos eles no sentido de fazer um convite para que venham participar da festa que celebramos às 18 horas do dia 2, diz Heberton.
ORIGEM
No Cristianismo o culto aos antepassados começou já no século I, quando os cristãos rezavam pelos falecidos; costumavam visitar os túmulos dos mártires nas catacumbas para rezar pelos que morreram sem martírio. No século 4º, já encontramos a Memória dos Mortos na celebração da missa. Desde o século 5º, a Igreja dedica um dia por ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém mais se lembrava.
O padre Carlos Egler lembra que desde o século XI, os Papas Silvestre II e Leão IX e João XVII obrigam a comunidade a dedicar um dia por ano aos mortos, mas foi no século XIII que a Igreja instituiu o 2 de novembro como dia de Finados