22/08/2023

“A era do ensaio” está com os dias contados ?

Vivemos em nosso país uma época que não tem condição de dar-se um nome, pois a muito tempo estamos vivendo “a crédito”. Nosso horizonte é incerto e não vejo, a curto prazo, nenhuma fórmula, receita ou projeto que nos possa tirar do atual quadro degradante senão passar por duas reformas estruturais, a saber: “a política” para nos tirar da acomodação de conveniências políticas, acordos e permutas fazendo com que nossa Presidente, nosso Governador e nosso Prefeito deixem de ser reféns deste clientelismo perverso e “a tributária” que nos devolva a condição de voltar a crescer, produzindo mais e pagando o que é justo com equidade. A frase de Abílio Diniz traz o alerta: “nosso país não é ingovernável, mas está ingerenciável”. Assim temos boas condições para sair do rótulo de “sociedade insatisfeita” para uma sociedade que se mexe e que não pode querer reproduzir o que já se sabe. Concordo com o filósofo Kierkegaard em essência única: a existência humana é definida pela categoria da possibilidade. Acreditem, não é possível mais tolerar o falatório de sempre: perdido, estéril e inconsequente. Saber interpretar é a chave da vez e para isso precisamos estar em movimento. Estejamos atentos.

Todo texto provoca em que lê a adesão ou a rejeição no primeiro olhar, afinal avalizamos aquilo que vem ao encontro do que queremos e repudiamos aquilo que nos enfrenta. Já disseram isto sobre meus escritos. Poucos são os textos que nos colocam em outra direção com o piscar de olhos, a não ser que seja bastante incomum, com um frescor de imparcialidade e total isenção de ânimo. Compartilho com vocês alguns exemplos que merecem ciência de nossa parte.

Nizan Guanaes, por exemplo, abriu nossos olhos quanto a importância da distinção entre marketing político e marketing público. A transição do marketing político para o marketing público precisa ser mais rápida, pois enquanto o primeiro pensa só em seduzir o eleitor, o segundo pode pensar no cidadão. Guanaes sentenciou: “O marketing político faz campanha. O marketing público ajuda a pensar e a elaborar políticas públicas para serem aplicadas depois da campanha, para serem aplicadas para melhorar a vida dos cidadãos, mesmo que amargas. {grifo nosso}.

Da mesma, não posso desconsiderar o alerta da presidenciável Luciana Genro do PSOL, que apesar de sua radicalidade, tocou em uma questão crucial quando o assunto é “o novo na política”. Escreveu: “… é preciso que os eleitores em busca do novo fiquem muito atentos para não ser enganados por uma simbologia vazia de conteúdos”. A desconfiança da presidenciável do PSOL com Marina se dá na relação desta com economistas que preferem manter a mesma lógica mercadológica, com pequenos e pontuais ajustes. Luciana Genro prestou um grande serviço à Marina, alertando-a dos perigos de ser apenas um instrumento nas mãos de alguns e portadora de um discurso de “fala provisória e às vezes contraditória”. Sempre achei que é preciso ter muito cuidado para pensar o novo na política, pois, ele próprio pode representar um produto antigo e, por isso, aquele ou aquela que representar o novo deve buscar uma maior desfamiliarização em relação ao tradicional, ou seja, em relação a tudo o que em nosso País, nosso Estado e nossa cidade é resultado da relação de dependência.

Habermas de quem prezo muito e concordo com muito do que escreveu, a tempo abandonou o conceito de revolução, aderindo ao conceito de proposição. Vários protagonistas de porte já tentaram enfrentar o sistema sem sucesso algum, passando-nos o saldo de que se você quer mesmo enfrentar o sistema é preciso muito mais que isso. Não vejo outra coisa senão que Marina está no olho do furacão. Tem sido rotulada de Lula da Amazônia, segunda via do PSDB, aquela que carrega a ingovernabilidade, fundamentalista par assuntos comportamentais e outros atributos impublicáveis. Vive-se um jogo de sinuca onde com qualquer taco quer-se bater na bola da vez. Marina tem suas insuficiências e não são poucas. No entanto, se tiver autonomia, poderá mostrar que aquilo que é poderia ser diferente. Não sei se conseguirá colocar na prática o teor de sua intenção, mas prefiro acreditar em possibilidades do que obviedades. Sua declaracão de se opor à reeleição foi uma interessante sinalização.

Por outro lado, nós eleitores precisamos ousar mais. O medo da dor costuma impedir o nascimento de uma nova criança. Chega de viver “a era do ensaio”, ou seja, ensaiamos, simulamos, treinamos, mas na hora “H” somos mais que condescendentes com os mesmos.

As pessoas ameaçam, mas tem pouca coragem para honrar a intenção de romper verdadeiramente com o que aí está ou de “em ato cirúrgico” bancar a mudança da mudança. Triste sina para o que pode nos colocar em outra direção: o reencantamento. Carecemos de uma liderança nacional que nos devolva um ambiente que inverta a passagem do engajamento ao desengajamento para o seu contrário, mesmo que em menor dosagem, ou seja, da descrença total para uma descrença menor. É muito ruim não acreditar mais em nada. O momento exige uma recomposição.

Tanto lá como cá, ao abafar ou inviabilizar o surgimento de novas lideranças, nossos atuais dirigentes comprometem nosso amanhã. A ideia de que “algum dia este mundo mudará” está muito distante. Dá para começar hoje, boicotando aqueles que se impõe sem nosso consentimento e que não nos dizem como será o amanhã. Alguns preferem aguardar mais um pouco e estão abertos a qualquer um fornecer o que falta. O tempo pode ser um ótimo descobridor e aliado nessas coisas ou um 'sossega Leão' que emperra a necessidade do hoje.

 

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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