Conhecer um Brasil diferente, dentro deste país de dimensão continental, é uma experiência por si só inesquecível. Interferir nessa realidade, poder levar um pouco da sua experiência, da sua formação universitária, traz à tona o sentimento de que, apesar de tão diferentes, somos um único povo. Um povo capaz de se emocionar ao perceber que com tão pouco mudamos a vida de alguém e que essa pessoa, esse brasileiro, na sua simplicidade muda a nossa vida. O Projeto Rondon, ação coordenada pelo Ministério da Defesa em parceria com universidades, proporcionou esta experiência que cada participante vai levar consigo para a vida toda.
A Operação Centro-Norte 2009 abrange os estados de Goiás, Amazonas, Pará e Roraima. No meu caso, fiz parte de uma equipe da Unicentro que seguiu para o município de Iaciara, localizado no nordeste de Goiás, muito próximo do estado da Bahia. Atuamos em conjunto com universitários de Rio do Sul – SC. Com aproximadamente 12 mil habitantes, a cidade tem um histórico de extrativismo representado pelas madeireiras e atualmente pelas carvoarias. Como outras cidades do país, lá é comum ver o êxodo de jovens após concluir o ensino médio em busca de trabalho e formação superior. Os destinos mais comuns são Brasília (cerca de 300 km) e Goiânia (quase 600 km de distância). Iaciara também tem suas dificuldades e desafios. O que me chamou a atenção é que nada muda se a população não acreditar que isso é possível. Mais que problemas estruturais ou de renda, senti que a maior carência local é de auto-estima, de ter perspectiva, enxergar a luz no fim do túnel. Se isso normalmente é triste, confesso que me emocionei ao perceber certa desesperança por parte das crianças; elas que, mais que ninguém, devem ter o direito de sonhar com um futuro melhor. Nessa hora você é desafiado a olhar a realidade delas e, dentro do possível, transmitir uma palavra de estímulo, que devolva a esperança abalada.
Uma das minhas atividades em Iaciara, como estudante de Jornalismo, foi a realização de oficinas de Produção Fotográfica, uma delas em uma comunidade quilombola, em que o objetivo principal não era repassar técnicas para tirar uma boa foto; era fazer com que os moradores passassem a prestar mais atenção à sua realidade, valorizar aquilo que possuem. Ao observar as imagens capturadas, muitos deles não reconheciam, por exemplo, locais por onde passam todos os dias. A fotografia contribuiu com esse processo de descoberta de si e da comunidade em que vivem.
O povo iacearense fica marcado, para mim, por sua alegria, receptividade e grande participação nas atividades que propomos. É preciso destacar que muitos deles ainda lembram-se da realização do projeto na cidade, em 1976. Eles nos procuravam para contar de que forma o Rondon teve influência positiva em suas vidas, levavam certificados da época. O tempo todo estivemos expostos a essa comparação com a primeira turma do projeto. No final dos trabalhos, ficamos felizes ao ouvir dos moradores que seremos lembrados, assim como a primeira turma do Rondon que foi a Iaciara, e que seremos sempre bem-vindos àquele município. Construímos verdadeiros laços de amizade.
Foram 12 dias que passaram rápido, mas que têm cada minuto gravado na memória e nas inúmeras fotos que tiramos. Dias em que saboreamos o famoso arroz com pequi e o beiju. Em que em vez de araucárias víamos vegetação rasteira de cerrado e as imponentes árvores chamadas popularmente de barrigudas. Imagine a sensação de ter sua viagem interrompida por mil cabeças de gado que tomam conta da rodovia estadual, de ter que ajudar a desatolar uma Kombi ou da possibilidade de tirar fotos com animais silvestres como tatus, quatis, periquitos e araras. Tivemos também a oportunidade de viajar em uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) e de conhecer um pouco de Brasília-DF.
Valeu a pena cada esforço que fizemos! Como disse uma professora do Rio de Janeiro durante uma das viagens de ônibus, o Rondon proporciona aquilo que nenhuma universidade vai ensinar. Levamos nosso conhecimento à comunidade, mas vemos que, na verdade, é ela que nos tem muito a oferecer. Os que voltaram não são mais os mesmos que foram.
Mais informações sobre as atividades dos rondonistas da Unicentro no blog: unicentro norondon2009.blogspot.com.
Por Rafael Nunes Acadêmico de Jornalismo da Unicentro