22/08/2023


Cotidiano

“Lição de vida e de cidadania”

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Conhecer um Brasil diferente, dentro deste país de dimensão continental, é uma experiência por si só inesquecível. Interferir nessa realidade, poder levar um pouco da sua experiência, da sua formação universitária, traz à tona o sentimento de que, apesar de tão diferentes, somos um único povo. Um povo capaz de se emocionar ao perceber que com tão pouco mudamos a vida de alguém e que essa pessoa, esse brasileiro, na sua simplicidade muda a nossa vida. O Projeto Rondon, ação coordenada pelo Ministério da Defesa em parceria com universidades, proporcionou esta experiência que cada participante vai levar consigo para a vida toda.
A Operação Centro-Norte 2009 abrange os estados de Goiás, Amazonas, Pará e Roraima. No meu caso, fiz parte de uma equipe da Unicentro que seguiu para o município de Iaciara, localizado no nordeste de Goiás, muito próximo do estado da Bahia. Atuamos em conjunto com universitários de Rio do Sul – SC. Com aproximadamente 12 mil habitantes, a cidade tem um histórico de extrativismo representado pelas madeireiras e atualmente pelas carvoarias. Como outras cidades do país, lá é comum ver o êxodo de jovens após concluir o ensino médio em busca de trabalho e formação superior. Os destinos mais comuns são Brasília (cerca de 300 km) e Goiânia (quase 600 km de distância). Iaciara também tem suas dificuldades e desafios. O que me chamou a atenção é que nada muda se a população não acreditar que isso é possível. Mais que problemas estruturais ou de renda, senti que a maior carência local é de auto-estima, de ter perspectiva, “enxergar a luz no fim do túnel”. Se isso normalmente é triste, confesso que me emocionei ao perceber certa desesperança por parte das crianças; elas que, mais que ninguém, devem ter o direito de sonhar com um futuro melhor. Nessa hora você é desafiado a olhar a realidade delas e, dentro do possível, transmitir uma palavra de estímulo, que devolva a esperança abalada.
Uma das minhas atividades em Iaciara, como estudante de Jornalismo, foi a realização de oficinas de “Produção Fotográfica”, uma delas em uma comunidade quilombola, em que o objetivo principal não era repassar técnicas para tirar uma boa foto; era fazer com que os moradores passassem a prestar mais atenção à sua realidade, valorizar aquilo que possuem. Ao observar as imagens capturadas, muitos deles não reconheciam, por exemplo, locais por onde passam todos os dias. A fotografia contribuiu com esse processo de descoberta de si e da comunidade em que vivem.
O povo iacearense fica marcado, para mim, por sua alegria, receptividade e grande participação nas atividades que propomos. É preciso destacar que muitos deles ainda lembram-se da realização do projeto na cidade, em 1976. Eles nos procuravam para contar de que forma o Rondon teve influência positiva em suas vidas, levavam certificados da época. O tempo todo estivemos expostos a essa comparação com a primeira turma do projeto. No final dos trabalhos, ficamos felizes ao ouvir dos moradores que seremos lembrados, assim como a primeira turma do Rondon que foi a Iaciara, e que seremos sempre bem-vindos àquele município. Construímos verdadeiros laços de amizade.
Foram 12 dias que passaram rápido, mas que têm cada minuto gravado na memória e nas inúmeras fotos que tiramos. Dias em que saboreamos o famoso arroz com pequi e o beiju. Em que em vez de araucárias víamos vegetação rasteira de cerrado e as imponentes árvores chamadas popularmente de “barrigudas”. Imagine a sensação de ter sua viagem interrompida por mil cabeças de gado que tomam conta da rodovia estadual, de ter que ajudar a desatolar uma Kombi ou da possibilidade de tirar fotos com animais silvestres como tatus, quatis, periquitos e araras. Tivemos também a oportunidade de viajar em uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) e de conhecer um pouco de Brasília-DF.
Valeu a pena cada esforço que fizemos! Como disse uma professora do Rio de Janeiro durante uma das viagens de ônibus, “o Rondon proporciona aquilo que nenhuma universidade vai ensinar”. Levamos nosso conhecimento à comunidade, mas vemos que, na verdade, é ela que nos tem muito a oferecer. Os que voltaram não são mais os mesmos que foram.
Mais informações sobre as atividades dos rondonistas da Unicentro no blog: unicentro norondon2009.blogspot.com.
Por Rafael Nunes – Acadêmico de Jornalismo da Unicentro

Cristina Esteche

Jornalista

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