22/08/2023

Família de pecuarista vive em clima de terror em Laranjal

Sem terra atearam fogo na casa, barracões e mangueiras

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Amarílio Kruger

Revolta, medo, dúvidas e sensação de impotência são os sentimentos que envolvem a família do agropecuarista Amarílio Kruger após o último atentado sofrido na Fazenda  Syracuze, no município de Laranjal, a 168 quilômetros de Guarapuava. A casa principal da sede, barracões, máquinas e implementos agrícolas, mangueira, depósito com sementes, foram consumidos pelo fogo ateado em vários pontos da área de 200 hectares, da qual Amarílio é arrendatário desde 2015. “Iam atear fogo com a minha família dentro”, disse o guarapuavano. “Moramos eu, minha companheira e duas crianças de 11 e 13 anos”. Isso aconteceu na noite de domingo (11). Parte do local está ocupado por integrantes do Movimento dos Agricultores Sem Terra do Oeste (Mastro), criado como consequência da luta dos colonos desapropriados por Itaipu. Segundo Amarílio, o grupo composto por cerca de 30 famílias está dentro da propriedade desde 2017.

Uma das partes incendiadas

O clima de terror que envolve Amarílio, Franciely e as duas crianças começou a ser desenhado em outubro do ano passado. A área de 410 hectares era de propriedade do agropecuarista Humberto Mano Sá, falecido em 2017. “Em 2015 eu arrendei parte da propriedade para colocar gado de engorda, mas em outubro do ano passado cerca de 50 pessoas do MST [Movimento dos Sem Terra] aramaram acampamento à beira da estrada em frente à fazenda. Ficaram uns 20 dias e depois foram embora e achamos que tudo tinha voltado ao normal”.

Porém, no final de novembro de 2017, um novo grupo, agora do Mastro, segundo Amarílio, entrou na área arrendada, já que o restante é reserva florestal, embora não esteja averbada. “As lideranças me chamaram para uma conversa e fui ameaçado quando disseram que contrato com morto não tem validade e que se não tirasse o gado até 12 de dezembro começariam a matar os animais e que eu também morreria”.

Boletim de ocorrência

Dizendo sentir-se intimidade, Amarílio retirou os 80 bois de engorda e registrou Boletim de Ocorrência no 16º Batalhão da Polícia Militar em Guarapuava. No dia 30 de novembro, o juiz Leonardo Silva Machado, da Comarca de Palmital, concedeu liminar de reintegração de posse, até agora não cumprida. “Estamos esperando há quatro meses e não sabemos a quem recorrer. Somos reféns da inércia do Estado”.

Liminar de reintegração de posse

Segundo Amarílio, desde a entrada dos sem terra na propriedade, as ameaças e intimidações são diárias. “Ficam andando armados de um lado para o outro, riem às nossas custas. Vivemos em pânico. A minha companheira é professora de escola municipal e não pode ir trabalhar por causa dos filhos. Não sabemos mais o que fazer. Nossos prejuízos são diários e sequer podemos trabalhar”.

Parte da destruição

Desde a noite de domingo (11), a situação se agravou. “Estávamos dormindo quando caiu a energia e fui ver o que tinha acontecido. Quando saí vi o fogo queimando tudo. Ligamos para a Polícia Militar e os únicos dois policiais foram pra lá. Tiveram que ficar atirando pra nos proteger e também a casa onde moramos. Nós saímos correndo e não sabemos mais o que fazer”.

Outra área destruída

Emocionado, Amarílio continua expondo a sua indignação. “Voltamos pra casa e estamos sem água e sem luz. Como a nossa vida vai seguir desse jeito? Vamos continuar resistindo e defendendo um projeto de uma vida inteira ou entregar a quem não tem direito? Vamos ficar lá morrer ou colocar uma trouxa nas costas e sair pela estrada deixando que se levou uma vida inteira pra construir?” E continua: “cadê o Estado, cadê as polícias que até agora não apareceram para ver quem são essas pessoas que estão fazendo esse terrorismo? Enquanto isso, estamos presos dentro de casa orando. Orar foi só o que nos restou até agora”.

REINTEGRAÇÃO

O portal RSN entrou em contato com a Polícia Militar em Guarapuava para obter informações a respeito da reintegração de posse, mas até a postagem desta matéria ainda não havia retorno. Porém, de acordo com informações de advogada que atua na área, logo após a concessão da liminar de reintegração há a intimação do oficial de justiça para que a ordem seja cumprida. Se isso não acontecer, o juiz da Comarca oficia o batalhão policial militar requerendo a força policial. Em seguida uma equipe policial faz um levantamento para ver o aparto necessário para a garantia da ordem durante a reintegração. Esse levantamento é remetido ao Governo que vai autorizar a medida.

 

Cristina Esteche

Jornalista

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