16h, domingo: sorvete, vodca e crack na Lagoa das Lágrimas

Candidamente, três adolescentes vestindo bermudas largas, tênis fosforescentes e bonés ajeitados de lado tomavam sorvete neste domingo (27) por volta das 16h15, na Lagoa das Lágrimas, região central de Guarapuava. Aparentando desinteresse, eles observavam a ação de dois policiais militares que faziam uma revista geral em cerca de 15 pessoas (em um misto provável de crianças, adolescentes e adultos) em uma área próxima ao serviço de pedalinho que funciona na Lagoa. Minutos antes, o trio sorveteiro estava no meio de um grupo que, a menos de 10 metros da entrada do pedalinho, aspirava arguile, bebia vodka e fumava crack.
Enquanto a batida transcorria, outros cinco adolescentes olhavam para os colegas no paredão com um misto de deboche e temor. ´Até o Gabrielzinho entrou nessa´, disse em certo momento uma das meninas do quinteto, referindo-se a um garoto franzino que estava encostado na parede, de costas para ela – ele usava boné claro, camiseta verde, bermuda azul. Talvez tivesse 12 anos. Ou 10.
A viatura da PM ali (uma EcoSport) havia levado 11 minutos apenas para chegar ao local, depois que um frequentador da Lagoa (acompanhado de esposa e filho) ligou para o 190. Terminada a ação, a viatura circulou mais alguns minutos pela calçada interna da Lagoa e, em seguida, pelas ruas no entorno da praça. Não se informar que a ronda retornou mais tarde mas algo, com certeza, pode ser afirmado: a Lagoa está se transformando em um espaço de grupos adolescentes que, à luz do dia, pouco ou nenhum medo têm de seus atos, ainda que ilegais. Quem se dá ao trabalho de observar por alguns instantes o local como um todo nota que há tensão no ar entre tais grupos.
Pois foi justamente esta tensão que fez movimentar dezenas de adolescentes de um lado para outro dentro da área da Lagoa poucos minutos antes da chegada da viatura. Estivesse a EcoSport mais cedo por lá, é provável que os PMs tivessem encontrado crack nas mãos de jovens de várias classes sociais. Claro que cabe reconhecer a ação firme e dentro da lei dos dois agentes que passaram pela Lagoa. Mas é razoável lembrar que a Guaratran não estava (de novo, aliás) nas redondezas, normatizando o trânsito especialmente na Travessa da Independência, via na qual os tais grupos fosforescentes se reúnem nos domingos à tarde, bebendo na frente de qualquer um que por ali passar.
Dias desses, li em um site qualquer que a Prefeitura havia realizado obras na região da Lagoa, aumentando a segurança da área. Só vou acreditar nisso quando enxergar o prefeito de Guarapuava circulando às 16h de um domingo qualquer, abraçando crianças na área do pedalinho, a menos de 10 metros de jovens que tentam desesperadamente acender o cachimbo improvisado de crack.

* Morador de Guarapuava. E-mai: marciorf@globo.com