22/08/2023
Mundo

A cada três segundos uma pessoa é forçada a deixar o local onde vive

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De O Globo

Por causa da violência, perseguição política e religiosa e, sobretudo guerras, homens, mulheres e crianças estão sendo forçados a deixarem os seus lares, formando o maior contingente de refugiados das últimas sete décadas. De acordo com relatório anual da Agência das Nações Unidas para Refugiados, existem no mundo 65,6 milhões de pessoas que foram obrigadas a deixarem os locais onde viviam, número superior à população do Reino Unido. Em média, 20 pessoas pessoas perdem suas moradias a cada minuto, ou uma a cada três segundos.

"Por qualquer medida, é um número inaceitável", disse Filippo Grandi, alto-comissário para refugiados da ONU. "É mais gritante que nunca a necessidade por solidariedade e propósito comum para prevenir e resolver crises, e garantir juntos que os refugiados, deslocados internamente e requisitantes de asilo sejam protegidos e cuidados enquanto soluções são buscadas".

Os dados se referem ao fim de 2016. No ano, 10,3 milhões de pessoas foram forçadas a deixarem seus lares, sendo que o número total de deslocados aumentou em 300 mil em relação a 2015. Isso mostra uma desaceleração, já que nos cinco anos anteriores o aumento anual nesse número superou a casa dos milhões. Em 1997, eram 33,9 milhões de pessoas nessa situação.

A agência desagrega os números entre deslocados internos, que são 40,3 milhões; os que ingressaram com pedido de asilo em outras nações, 2,8 milhões; e os que cruzaram as fronteiras de seus países e se tornaram refugiados, 22,5 milhões, o maior número desde que a Agência para Refugiados da ONU foi fundada, em 1950, logo após o término da Segunda Guerra Mundial.

SÍRIA É MAIOR FONTE DE REFUGIADOS

O conflito na Síria, que está no seu sétimo ano, é a maior fonte de refugiados do mundo, com 5,5 milhões que fugiram do país. Mas em 2016, o maior gerador de refugiados foi Sudão do Sul, com 737.400 pessoas que cruzaram a fronteira com países vizinhos para fugir da guerra civil. Nyawet Tut, uma sudanesa do sul mãe de cinco filhos, contou que a vila onde vivia foi incendiada por soldados.

"Meu marido foi morto na guerra. E com a falta de alimentos, eu decidi deixar a minha casa, tudo, para trás", contou Nyawet aos funcionários das Nações Unidas num campo temporário para refugiados na Etiópia.

Apenas três países – Síria, Afeganistão e Sudão do Sul – são responsáveis por 55% de todos os refugiados no mundo. E a Turquia, vizinha da Síria, é pelo terceiro ano consecutivo o país que mais abriga refugiados, com 2,9 milhões de pessoas. Depois estão Paquistão (1,4 milhão), Líbano (1 milhão), Irã (979.400) e Uganda (940.800).

Em números totais, de refugiados e deslocados internos, a Síria tem o maior número de pessoas que foram obrigadas a deixarem os locais onde viviam, com 12 milhões de pessoas nessa situação. Isso significa que dois em cada três sírios perderam seus lares na guerra. A Colômbia (7,7 milhões) e o Afeganistão (4,7 milhões) formam com a Síria os três países com mais desabrigados.

A recepção de refugiados tem sido um tema bastante debatido em países desenvolvidos, como os europeus e os EUA, mas o relatório mostra 84% dos refugiados do mundo estão em países pobres ou em desenvolvimento. Esse descolamento do discurso com a realidade reflete a falta de consenso internacional sobre a recepção de refugiados e a proximidade de muitos países pobres às regiões de conflito.

"Nós precisamos fazer mais por essas pessoas", disse Grandi. "Para um mundo em conflito, o que se precisa é de determinação e coragem, não medo".

 

Cristina Esteche

Jornalista

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