sábado, 21 de jun. de 2025
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“A cirurgia não é uma solução mágica”, diz psicóloga sobre bariátrica em adolescentes

O Conselho Federal de Medicina mudou as regras para a cirurgia bariátrica e incluiu os adolescentes no público que pode fazer o procedimento

"A cirurgia não é uma solução mágica", diz psicóloga sobre bariátrica em adolescentes (Foto: Reprodução/Freepik)

O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou novas normas para a cirurgia bariátrica. Entre as principais mudanças estão a ampliação das recomendações, que vão permitir que pessoas com IMC menor e adolescentes façam a cirurgia. A bariátrica é um método de tratamento da obesidade e das doenças relacionadas. De acordo com os dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), entre 2020 e 2024, o Brasil atingiu o número de 291 mil cirurgias.

Entre as principais mudanças estão a redução do IMC mínimo para a cirurgia. A partir degora, pessoas com IMC entre 30 e 35 passam a poder fazer o procedimento. Além disso, outra mudança que chamou atenção é que, com as novas regras, pacientes a partir dos 14 anos de idade podem fazer a cirurgia.

Para isso, no entanto, eles precisam se enquadrar em caso grave de obesidade, com IMC acima de 40, que leve a complicações de saúde. Antes, a idade mínima era 16 anos. Além disso, os adolescentes entre 16 e 18 anos também vão poder fazer a bariátrica e só serão exigidos os critérios já pedidos para adultos, como IMC mínimo e comorbidades.

De acordo com o Médico especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo e Bariátrica, Gabriel Augusto Sardeto, se o procedimento for tecnicamente bem executado, os pacientes tendem a ter um processo de recuperação mais favorável. Isso porque, os pacientes foram expostos por menos tempo aos efeitos da obesidade. Dessa forma, muitas vezes, ainda não desenvolveram comorbidades mais graves que poderiam agravar o risco cirúrgico à curto prazo.

No longo prazo, se o pós-operatório e o seguimento ocorrerem de forma satisfatória e regular, a cirurgia tende a ser um auxílio ao desenvolvimento físico, metabólico e hormonal do paciente. Caso isso não ocorra existem riscos significativos que devem ser considerados. O processo de má absorção induzido pela cirurgia pode prejudicar o ganho de massa óssea e muscular, importantes na idade e predispor alterações no eixos hormonais que regulam o metabolismo. Isso pode se refletir clinicamente de várias formas, inclusive afetando a cognição e aprendizado.

Ainda de acordo com Gabriel, a cirurgia bariátrica pode impactar o desenvolvimento ósseo ou a puberdade nos pacientes adolescentes e é por isso que é importante que exista o acompanhamento a longo prazo.

O monitoramento ocorre por meio de exames laboratoriais periódicos, tanto para avaliar funções específicas dos órgãos, quanto dosagens vitamínicas e de minerais. Exames de imagem ou funcionais também podem ser necessários. O paciente também segue um plano multidisciplinar que envolve diversos profissionais de saúde, focando em nutrição, exercício e saúde mental.

Por fim, o médico especialista ressalta que é importante que todo o paciente que vai se submeter a um procedimento bariátrico esteja convicto e decidido a mudar de vida e de hábitos e que a adolescência traz esse desafio. “O paciente adolescente na maioria das vezes está em uma fase de muitas incertezas e inseguranças. Dessa forma, as coisas tendem a ser bem voláteis nessa idade. Por isso o trabalho psíquico é ainda mais importante nesse grupo de pacientes”.

De acordo com a psicóloga Anne Wendler, antes da cirurgia, o adolescente pode estar vivendo um ciclo de frustração, baixa autoestima e muita cobrança, tanto interna quanto social. Dessa forma, é comum se sentirem inadequados, excluídos ou até culpados por não conseguirem emagrecer “sozinhos”.

Depois da cirurgia, o desafio muda. Além de lidar com as mudanças físicas, eles enfrentam o medo de não conseguir manter os novos hábitos, a ansiedade com os resultados e até o luto pelo antigo padrão de vida. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ajuda muito nesse processo, porque trabalha os pensamentos automáticos e as crenças que impactam diretamente a forma como eles se veem e se comportam diante dessas transformações.

A psicóloga ainda alerta que, a adolescência já é, por si só, uma fase de construção da identidade. Quando se passa por uma mudança corporal tão significativa como a bariátrica, é natural que o adolescente sinta certa “confusão” em relação à própria imagem. “Além disso, podem surgir dúvidas sobre quem ele é sem o peso que o acompanhou por tantos anos. Por isso, é essencial oferecer um espaço terapêutico seguro, para que ele possa elaborar essas mudanças com acolhimento, sem se perder de si mesmo”.

Anne ainda alerta que, um acompanhamento psicológico a longo prazo é fundamental após o processo cirúrgico. Isso porque, o acompanhamento psicológico contínuo ajuda o adolescente a desenvolver estratégias de enfrentamento saudáveis, principalmente diante de estresse, frustrações e recaídas.

A cirurgia é um ponto de partida, não uma solução mágica. Na TCC, a gente trabalha a reestruturação de pensamentos sabotadores, como “Comi errado agora, já que estraguei todo o meu dia, então vou comer o que eu quiser”, que são muito comuns. Além disso, ajudamos o paciente a construir um estilo de vida com mais consciência, disciplina e autorrespeito, algo que vai muito além da balança.

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Julia Sansana

Jornalista

Jornalista formada em 2024 pela Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro).

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