O sonho da política do amanhã, de um horizonte diferente e especial está cada vez mais distante. A máxima de que ‘enquanto houver processos democráticos, o cidadão poderá resistir e até sobreviver’ está em ruína. Corremos riscos cedo, à tarde e à noite. A possibilidade de um contraponto com perspectiva de atingir objetivos concretos na vida pública, não entusiasma mais. O desencanto é gritante.
Relendo trechos de ‘Raízes do Brasil’ de Sérgio Buarque de Holanda tive o insight de que nossos jovens não reconhecem mais o Brasil como um país do futuro. Na mesma proporção parece que não conhecem nosso passado e, ao que tudo indica, desconhecerão o futuro. Tudo gira em torno de um presente pesado. Talvez, hipoteticamente, se parte do judiciário cumprir o que tem anunciado { pouco provável }, poderemos recomeçar tudo de novo, com novos fundamentos.
Desde cedo uma de minhas máximas favoritas sempre foi: “o que não se regenera, degenera”, ou ainda “nada está estabelecido para sempre”. Dito de outra forma, se você tem corrupção endêmica, não é para sempre, pode degenerar. Deste modo, sempre acreditei na força da regeneração e sentir a necessidade dessa força de regeneração sempre me tonificou. Mas confesso que neste exato momento sinto-me potencialmente impotente diante do veredicto de que não é mais o futuro que importa, mas sim o presente.
Apesar disto, continuo em movimento e, dia após dia, tento compreender o que se passa, afinal como escreveu Spinoza ‘a liberdade consiste em conhecer os cordéis que nos manipulam’. Mas o simples diagnóstico não tem sacudido o mundo, mas sim a realidade, a dura realidade. É ela, a realidade, que tem tirado o sonho das pessoas, colocando-as na rede da depressão política. Entre o acordar e o voltar a dormir, as pessoas sem escolha, estão voltando para a cama e se conformando com o que se ouve no discurso único da mídia oficial.
O filósofo italiano Giorgio Agamben diz que nossa alegria e nossa dor é pelo mundo ser assim e não de outra forma como queríamos. Assim, a humanidade caminha para se tornar uma legião de pessoas que, por necessidade, abandonam a guerra política e encolhem-se no mundo privado. Acreditam que estão jogando a água suja da banheira para tentar salvar o bebê.
Alguns poucos, cada vez mais isolados, continuam em guerra, como Foucault já nos advertia, mesmo que a aparência da paz iluda muitos. Gritam todos os mesmos slogans, mas na verdade têm interesses diversos e expectativas difusas. Assim, a fragmentação não nos leva a lugar algum.
Ora, faz tempo que sei que a raiva e o ódio são incapazes de transformar a realidade e está claro que estes sentimentos passionais não resultam em mudança compartilhada. É preciso encontrar outra estratégia.
Em desvantagem, sabemos da verdade sobre nossos atuais homens públicos, ou seja, que sabem o que fazem e que continuam fazendo, apesar de tudo.
Qual a solução? Será a volta de um populismo saudável ? Será o culto do niilismo? Sinceramente não sei. Parece que populistas na política são sempre os outros, os adversários. Na verdade, qualquer bom partido deveria ser populista, ou seja, escutar o que pensam e o que pedem as pessoas comuns, os cidadãos. No entanto, no debate político a palavra é usada em sentido pejorativo.
Por fim, deixo um recado. Não me preocupa a suposta ameaça do populismo que pode voltar em 2018, mas a possível resposta autoritária à crise da democracia.