segunda-feira, 11 de ago. de 2025
Blog da Cris Guarapuava

A disputa que incendeia o PT

Disputa entre Zeca Dirceu e Arilson Chiorato expõe a batalha entre dois projetos: a 'interiorização' do PT contra a manutenção da 'máquina' atual

Conflito interno (Imagem gerada por IA)

Se você acha que a briga boa na política ocorre apenas entre governo e oposição, precisa dar uma olhada no que está acontecendo dentro do PT do Paraná. A disputa pela presidência estadual do partido não é uma mera escolha de nomes. É um sintoma agudo da encruzilhada em que se encontra o partido no estado. A ‘briga’ entre a lógica do ‘aparelho’ partidário, centralizado e hegemônico, e a demanda por representatividade de uma base diversa e geograficamente espalhada.

Em lados opostos estão duas das principais lideranças do partido: o deputado federal Zeca Dirceu e o deputado estadual Arilson Chiorato, que busca a reeleição. O clímax dessa batalha interna está marcado para 27 de julho, mas cada dia é um novo ‘round’. E o desta sexta (18), é em Guarapuava, onde Zeca Dirceu se reúne com filiados às 19h no Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sisppmug), buscando ampliar a vantagem que conquistou no primeiro turno.

A tática do ‘Fogo Amigo’

Enquanto Zeca aposta no corpo a corpo, a campanha de Arilson Chiorato encorpa no ataque no campo virtual. A tática mais emblemática dessa tensão é a divulgação de uma foto de Zeca Dirceu ao lado do governador Ratinho Junior (PSD). Em uma análise crítica, o gesto expõe uma contradição fundamental. No meu entendimento, ao apelar para um purismo ideológico, a campanha busca criar uma pecha de traição no adversário. No entanto, ao mesmo tempo, revela uma concepção de política que rejeita o diálogo institucional.

A jogada é um clássico do ‘fogo amigo’, mas ela nos obriga a uma reflexão mais profunda. Qual o limite da relação institucional? Um parlamentar deve se recusar a dialogar com um governador de outro partido, mesmo que isso signifique perder recursos para suas bases? Os interesses da população não deveriam estar acima dessas picuinhas eleitorais? Ou acreditar nisso é apenas utopia no pragmático e, por vezes, cruel jogo político?

Ignora-se que a atuação parlamentar, para ser eficaz, exige trânsito e negociação com quem detém o poder executivo. A questão que fica é se essa tática serve ao partido ou apenas ao grupo que deseja manter o poder.

Duas Visões de Partido

Para além de tudo isso, os próprios conceitos das campanhas revelam o cerne da disputa. De um lado, o lema de Arilson Chiorato, ‘O PT é dos petistas’, soa como um código para a manutenção do ‘status quo’. É um projeto que fala para dentro, reforçando o controle de um grupo que hoje comanda a estrutura a partir da Capital.

Do outro, o slogan de Zeca Dirceu, ‘O PT mais perto de você’, é uma resposta direta a essa percepção de distanciamento. A bandeira da “interiorização” não é apenas geográfica; é uma proposta de poder, que significa diluir a autoridade concentrada e dar mais autonomia aos diretórios municipais.

A geopolítica do poder

As alianças firmadas desnudam essa divisão. Arilson Chiorato se ancora na estrutura, no ‘establishment’ partidário, com o apoio explícito da presidente nacional Gleisi Hoffmann, do deputado Tadeu Veneri e da maioria das correntes tradicionais. É a força da máquina, cuja imagem vem contornada por denúncias de irregularidades no processo. Juro que não entendo como ocorre isso dentro de um interno e democrático. Para mim, surge como um sintoma clássico de quando a manutenção do poder se torna um fim em si mesmo.

Zeca Dirceu, em contrapartida, constrói uma coalizão de insatisfeitos. A aliança com o deputado Renato Freitas é o movimento mais significativo. Freitas representa uma esquerda combativa e crítica à própria burocracia partidária, trazendo musculatura a Zeca justamente na capital, onde Chiorato é mais forte.

Muito mais do que nome

Portanto, o que será decidido no dia 27 de julho não é apenas um nome. A militância petista vai escolher qual partido deseja para o futuro. E aí há duas questões: um PT organizado verticalmente, sob o controle de sua ‘nomenklatura’ curitibana? Ou um PT que tenta se reconectar com as raízes municipais e a base social?

Bom, o fato é que o vencedor vai herdar o desafio não de celebrar a vitória, mas costurar as fissuras para enfrentar a oposição real pensando nas eleições de 2026.

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Cristina Esteche

Jornalista

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