22/08/2023
Brasil

A gestão e as cidades inclusivas, seguras, resistentes e sustentáveis.

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Como os administradores podem ajudar a transformar as cidades em um espaço melhor para todos? E mais, por que deveriam se preocupar com isso?

Em 2015, como resultante das negociações da Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável foram instituídos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), sucedendo e atualizando os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).  Trata-se de uma série de ações que deverão orientar políticas nacionais e as atividades de cooperação internacional nos próximos quinze anos, ou seja, 2030. Busca-se, com os ODS, conseguir a integração das dimensões econômica, social e ambiental do desenvolvimento sustentável e assim, caminhar em busca de um mundo melhor, mais justo e mais humano para mais pessoas.

Entre os dezessete objetivos, um dos mais desafiadores é o de tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resistentes e sustentáveis.

Ao longo do tempo, por meio da transformação dos espaços geográficos que ocupa e ocupou, o homem experimentou diversas formas de se relacionar com a natureza, porém quase sempre a desprezando.  A abundância de disponibilidade de terras deu ao homem a ilusão de que os recursos seriam para sempre abundantes, o que certamente não ocorre num mundo com 7,4 bilhões de pessoas.

É correto afirmar também que ocupação não ocorreu de maneira partilhada.  A terra, outrora elemento quase exclusivo para a geração de riqueza (na acepção de David Ricardo) quase sempre foi cortejada e acumulada, para posteriormente ser aviltada. Este acúmulo de terras – e de riquezas – fez com que muitos homens sobrevivam com pouco e poucos vivam com muito.

Continuando agir de forma a intensificar o uso abusivo e o acúmulo por poucos, podemos garantir que em menos de 15 anos podemos transformar as cidades e comunidades em lugares sustentáveis? Uma resposta franca argumentaria a total impossibilidade, o que tornaria qualquer esforço realizado mera ação paliativa que, no geral, produziriam pouco efeito. Assim, seria melhor não se fazer nada e contemplar os últimos suspiros de um planeta moribundo, certo? Não, certamente que não.

Uma das palavras que acompanha a humanidade é a tenacidade e isso nos torna capaz de superarmos as dificuldades que nós mesmos criamos. Assim, ao se refletir sobre sustentabilidade o melhor a se fazer é pensar como Oscar Wilde, que disse que “o progresso não é senão a realização das utopias”.

Precisamos acreditar que podemos garantir universalmente o acesso de habitação segura, adequada e a preço acessível. Por que não pensar num mundo em que o transporte público seja majoritário a todos os demais? Que sejamos capazes de propiciar proteção para as catástrofes, principalmente para os pobres e as pessoas em situação de vulnerabilidade? Não seria bom um mundo em que tivéssemos o fim de obstáculos físicos para pessoas com deficiência em todas as edificações? Todos os sonhos descritos aqui são algumas das onze ações previstas no sentido de melhorar a ocupação dos espaços pelo homem, previstas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Pois bem, acreditar nas utopias se faz necessário, mas é suficiente?  Ortega y Gasset, nos traz a resposta: “é imoral pretender que uma coisa desejada se realize magicamente, simplesmente porque a desejamos. Só é moral o desejo acompanhado da severa vontade de prover os meios da sua execução”. E que meios são estes? Há uma crença factível que temos soluções tecnológicas para quase todos os problemas que existem e somos capazes de criar muitas outras soluções, logo, pressupõe-se que não há impedimentos para o uso destas tecnologias para solucionar o problema da caótica ocupação dos espaços humanos.  Sanado o problema de meios para fazê-los, a questão volta-se ao como executá-los e para isso aponta-se que a capacidade de gestão destas tecnologias é que será capaz de atingir as utopias desejadas.

Melhores gestores, principalmente aqueles da coisa pública, poderão atingir resultados mais rápidos e com mais eficácia no prazo apontado. Assim, é preciso ter esmero em preparar as atuais e futuras gerações com ferramentas que os capacitem em realizar o planejamento, a organização, a direção e controle das soluções encontradas. A formação de gestores, ou administradores, nem sempre é apontada como uma solução plausível para a solução de problemas ambientais. Isso é um equivoco. É neste ambiente que se formam os que possuem competências para tomar decisões em ambientes complexos. Faz-se necessário, porém, uma correção. As escolas de gestão devem fugir do estereótipo do administrador que tem obsessão por metas a qualquer custo. Para a ocupação de espaços melhores para todos, precisamos ter a severa vontade de executar tarefas, mas também acreditar nas utopias.

Claudio Marlus Skora, coordenador do Curso de Administração do UniBrasil Centro Universitário.

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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