22/08/2023
Blog da Cris Brasil

A missão é provar que faz diferente sem virar igual

Missão não terá cesso ao Fundo Partidário, mas receberá entre R$ 3 e 4 milhões do Fundo Eleitoral. Justamente o recurso que o MBL sempre condenou

Partido Missão (Foto: Reprodução/X)

A aprovação do Partido Missão (MBL) pelo TSE vai além da formalidade jurídica. É um sintoma claro da crise estrutural do sistema partidário brasileiro. Com a nova legenda, já são 30 partidos registrados. Ou seja: um número que revela mais fragilidade institucional do que diversidade ideológica.

Na teoria, a proliferação de siglas indicaria vitalidade democrática. Na prática, mostra um sistema fragmentado, em que partidos funcionam como plataformas de carreira, não como portadores de projetos nacionais. A baixa fidelidade partidária transforma legendas em veículos de conveniência, trocados ao sabor das oportunidades eleitorais.

O ‘vaivém’ de políticos entre siglas obedece ao cálculo do custo-benefício eleitoral. Vemos aqui o tempo de TV, fatia do fundo, quociente mais favorável. Um ciclo que mina identidades políticas e transforma o ‘presidencialismo de coalizão’ em ‘presidencialismo de reféns’.

Nesse contexto, o surgimento do Partido ‘Missão’ é um caso exemplar de ironia histórica. O MBL, que nasceu combatendo o fisiologismo e a “velha política”, agora reproduz os mesmos mecanismos que criticava.

De acordo com Renan Santos, líder do movimento, o “bolsonarismo morreu” e o ‘Missão’ surge como alternativa liberal à direita. Mas o discurso de ruptura esbarra na realidade: o partido, sem representação no Congresso, não terá acesso ao Fundo Partidário, mas receberá entre R$ 3 e 4 milhões do Fundo Eleitoral. Justamente o recurso público que o MBL sempre condenou.

O Missão tenta institucionalizar o capital político acumulado no ativismo digital, com um discurso de liberalismo econômico e eficiência administrativa. Mas, como tantos antes, cai no mesmo dilema: o sistema premia o pragmatismo e pune a coerência.

IRONIA

Em última análise, o novo partido nasce como mais um capítulo do paradoxo brasileiro: legendas que prometem renovação acabam reféns das mesmas estruturas que juraram derrubar.

E eis a ironia: o MBL entra na arena política formal justamente para provar que, no Brasil, não há como disputar poder sem jogar o mesmo jogo. O “partido da mudança” estreia seguindo a cartilha da velha política. E talvez aí resida o verdadeiro teste do liberalismo brasileiro: fazer diferente sem virar igual.

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Cristina Esteche

Jornalista

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